19.5.10

Declive?

 Estará lá o declive? Ou é da minha vista? Como quero ver direito, experimento inclinar a foto. Agora, parece-me melhor – um simples toque parece poder alterar a minha percepção. Quando envelhecemos, queremos acreditar que contribuímos para melhorar as coisas em que tocámos, mas, ao mesmo tempo, começamos a ter pejo em pensar que a nossa presença trouxe algum benefício ao nosso semelhante… A ligeireza da palavra intempestiva aborrece-me, coarcta-me os argumentos, como se apenas a pedra pudesse estancar a catadupa de rugidos que se abate sobre mim.

Independentemente do juízo que faça da realidade, que a veja em declive, esta sai sempre vencedora. Ainda caio na tentação de querer corrigir a inclinação da agulha atraída por uma força ignota, mas, de verdade, o que desejo é perder-me na raiz vida, ficando a ouvir o gorjeio, por ora, dos melros…

2 comentários:

  1. Palavras intempestivas? Palavras leva-as o vento...O que interessa são as acções do homem (ou da mulher)!
    Declives? Com a nossa idade já temos obrigação de os evitar. É preferível o declive invertido!
    I.G.

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  2. Receio que o problema não está tanto em querermos ver direito, mas em a realidade teimar em se apresentar cada vez mais torta...
    Ou será que é a realidade de uns quantos que, nascidos já enviesados, não têm consciência da verticalidade das palavras e dos actos?
    Caso para seguirmos a ataraxia do poeta: "Prefiro rosas, meu amor, à pátria,/ E antes magnólias amo/ Que a glória e a virtude."

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