« O Português, sendo embora um trabalhador incansável, possui um espírito empírico, não gostando nem de organização nem de disciplina. (…) Aliás, o encanto dos Portugueses reside nos seus próprios defeitos. Em 1966, mais de 70000 automóveis circulavam nas estradas de Angola, sem mencionarmos motos, veículos indispensáveis em África. Se nos arriscamos a partir a cabeça a todo o instante, na estrada que liga Catete a Luanda, devido à sua estreiteza e tráfego intenso, encontramos, pelo contrário, no sul de Angola, entre Moçâmedes e Porto Alexandre, mais de 100 quilómetros de estradas asfaltadas, dignas de uma pista de corridas. Um único carro passará talvez, de hora a hora, nessa estrada, mas as autoridades quiseram, não sei por que razão, construir tal artéria em detrimento de outras, cem vezes mais importantes.» Mugur Wallu, Angola – Chave de África, pág. 136, 1968, Parceria A.M. Pereira, Lda, Lisboa.
Os nossos governantes insistem, como as autoridades coloniais, em construir vias e pontes fantasmáticas, em esbanjar recursos em reconstruções plásticas de edifícios escolares, em detrimento da reordenação do território de modo a potenciar a capacidade trabalhadora e produtiva das populações.
Bipolares, saltamos da megalomania para o imobilismo, sofismando permanentemente. O sofisma tornou-se numa arma capciosa, incapaz de iludir o mais incauto…
O encanto dos nossos governantes é tão antigo como o país que nunca soubemos administrar. É visceral. ESTRUTURAL.
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