Quando os tambores rufavam e a ditadura democrática se apoderava das sobras do Império, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro conversavam sobre a asfixia doméstica e nacional, procurando fora e dentro da pátria uma alma nova, cientes de que só o imaginário os poderia libertar da pequenez. E é nessa encenação criadora que ambos se concentram, sacrificando a vida ao IDEAL estético.
A conversa transformou o quotidiano e o medíocre em matéria de arte, invertendo o processo épico que nos fizera subir ao Olimpo e acreditar pateticamente numa grandeza ícara…
Não surpreende que a derrocada trazida por Abril tenha criado as condições para que João Botelho ousasse, em finais da década de 70, encenar orpheu. Coadjuvado por alguns dos filhos de Maio de 68, João Botelho procedeu a um notável trabalho de reconstituição da rara excelência criativa que poderia esconder a desgraça que desabara sobre a orgulhosa pátria e sobre os frágeis ramos que dela se libertavam.
Na ESCamões, os alunos puderam ver hoje, com apresentação de João Botelho e de Fernando Cabral Martins, CONVERSA ACABADA que, para além da tentação de emulação, os poderá levar a repensar o seu próprio tempo…
De parabéns estão, assim, o núcleo de Cinema da Escola, o ABC Cineclube e os professores Cristina Duarte, Jorge Saraiva e José Esteves.
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