6.6.13

Tudo é...

Hoje não vou dissecar o último romance de Manuel Alegre "Tudo é e não é " até porque já é difícil  interpretar os sonhos quanto mais esquematizar uma narrativa que, aparentemente, procura reproduzir uma sintaxe onírica.
O título é adequado não só à ambiguidade da linguagem dos sonhos, mas sobretudo ao momento que vivemos, em que nada é seguro, tudo muda sem regresso. E nesse aspeto, o título promete, porém a leitura desarma, pois as referências ao presente são subtis, apesar de alguns enunciados parecerem revelar o contrário:
 
«O Medo. Sim. O Medo, com maiúscula. O Medo desconhecido, do inimigo invisível, do não saber para onde se vai nem o que pode acontecer.» 
 
O protagonista António Valadares, a espaços, expõe o pensamento do Autor. Mas fá-lo de forma tímida e estereotipada:
 
«Ultimamente tenho criticado os mercados, as agências de rating, os fundos de investimento, os especuladores e os poderes ilegítimos que se sobrepõem à democracia e à soberania dos Estados
 
Embora possa estar errado na análise da narrativa, uma das linhas de força deste romance é a ação política, mas como é comum em Manuel Alegre, ele prefere o passado ao presente, prefere inscrever-se na história, chegando ao ponto de semear farpas como acontece no seguinte caso:
 
«No uso da palavra está um dos meus piores inimigos políticos, do meu próprio partido, claro...»
 
E em matéria de linhas de força, há que estar atento à literatura e ao cinema com o constante recurso à citação e ao intertexto.
Por hoje, mais não acrescento, mas prometo regressar ao fascínio do autor pela literatura, pelo cinema e, também, pela música, sem esquecer a caça e o desnecessário marialvismo que lhe estraga o bom gosto.  
 
Em síntese, creio que esta narrativa dos sonhos poderia ter explorado com mais profundidade o MEDO que cresce a cada momento...
 

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