8.8.16

Resposta de Salazar a George Ball

Lisboa, 29.02.1964
  1. A ordem nova (americana), ao defender «o movimento nacionalista dos povos do continente africano», visando  a independência, «tem de negar o direito preexistente». Esta mudança de posição dos Estados Unidos torna o diálogo impossível.
  2. A Carta das Nações Unidas « prevendo prudentemente várias soluções, desde a integração à independência, entendeu confiar a definição do destino desses territórios à autodeterminação dos povos interessados por intermédio da soberania responsável e, naturalmente, quando pudessem responder por ato tão transcendente de vontade política.»
  3. Três graves queixas de Salazar: a) «os territórios ultramarinos portugueses não são, não eram territórios dependentes mas politicamente integrados num Estado que nessa forma constitucional foi admitido sem discrepância nas Nações Unidas; b) nas moções votadas referentes a Portugal a autodeterminação não tem sido a escolha de opções diversas, conforme prescreve a Carta, mas a imposição de uma só - a independência; c) no tocante aos territórios portugueses (pelo menos em relação a estes) a independência imediata que se tem exigido recusa a natural evolução dos povos e a existência de uma formação política esclarecida. (...) E podíamos queixar-nos ainda de que a chamada autodeterminação está sendo procurada através de todos os meios de pressão externa, como se a vontade dos povos possa substituir-se à única válida das populações interessadas.» 
  4. Salazar sabe bem que o objetivo da autodeterminação defendido pelas Nações Unidas ( e pelos Estados Unidos) é apenas um disfarce da exigência de independência imediata, indo ao ponto de referir a posição do Secretário-Geral da ONU, U Thant, pois as Nações Unidas terão chegado ao ponto de votar não ser precisa qualquer preparação para a independência.
  5. Salazar contrapõe à proposta americana: «V. Exª contrapõe aos resultados desastrosos obtidos naqueles casos em que a independência se operou contra a potência soberana, o êxito alcançado quando a mesma se processou com o auxílio desta. Ora a experiência tem demonstrado (...) que a estabilidade política dos novos Estados ou assenta numa base tribal ou depende do auxílio exterior. No primeiro caso assistimos a um recuo traduzido no renascimento da primitiva organização dos territórios; no segundo estamos perante o que poderia designar-se pseudoindependência ou soberania disfarçada dos mesmos territórios.»
  6. Salazar antevê que no caso de uma independência em que sejam quebrados os laços políticos, a consequência será «a de a posição de Portugal ser tomada por um terceiro país - e não será isso que se pretende?»
  7. Em 1964, Salazar caracteriza o mapa político africano, à exceção da África do Sul,  com «um tom exclusivamente neutralista, senão já alinhado em alguns casos contra o Ocidente, o que quer dizer que os novos Estados africanos se recusam a tomar posição no conflito ideológico que contrapõe o Ocidente ao mundo comunista ou tomam-na em favor deste.»
  8. Sobre a estratégia comunista, Salazar defende que o comunismo «pode desistir de formar partidos políticos africanos identificados como comunistas; nem procurará ostensivamente instalar repúblicas populares. Os objetivos comunistas em África contentar-se-ão, ao que nos parece, com captar África para a nacionalização da riqueza formada, meio caminho andado para lhe cortar o progresso económico, e depois em neutralizá-la, ideológica e estrategicamente. (...) Por isso, e na medida em que fomentarmos, o neutralismo africano, creio que estaremos a criar posições que servem, essencialmente, os interesses do inimigo.
  9. Sobre o terrorismo, Salazar não tem dúvidas de «que, se cessasse o auxílio externo aos terroristas, estes não tardariam também a fazer cessar a sua maléfica e inútil atividade...»

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