«Havia quem defendesse (no Conselho dos 20, um dos órgãos do MFA) que os não devíamos ajudar, porque eram fascistas. Lembro-me do tempo que se perdeu com esta discussão e que a reunião foi inconclusiva a este respeito.» Vieira de Almeida, ministro da Economia nomeado por Portugal para o Governo de transição saído do Acordo de Alvor, assinado a 15 de Janeiro de 1975.
O
tenente-coronel Gonçalves Ribeiro acabou por ser o responsável pela ponte
aérea. É provável que os mais de 200.000 portugueses saído no âmbito da ponte aérea devam a Gonçalves Ribeiro o facto de lhes terem sido postos à disposição os meios de fuga.
Gonçalves Ribeiro chegara a Angola em 1972 para uma comissão de serviço
de dois anos. A mulher e os filhos regressaram a Portugal em agosto de 1974,
mas ele optou por prolongar a sua permanência na ainda colónia portuguesa.
Integrou o Governo provisório que administrou o território até ao Acordo de
Alvor. Em 1975, transitou para o gabinete do Alto-Comissário Silva Cardoso, que
substituíra o almirante Rosa Coutinho no cargo…
Em junho de
1975, «Portugal relegou a descolonização para plano subalterno. E, no entanto,
faltavam ainda cinco meses para a data da independência de Angola estabelecida
em Alvor.»
A 11 de Junho
de 1975, o tenente-coronel Gonçalves Ribeiro desloca-se de Luanda a Lisboa,
reunindo com a Comissão Nacional de Descolonização, onde defendeu que a TAP
«estava muito longe de poder fornecer os meios necessários à saída da população
branca. Um problema que não tem merecido o mínimo de atenção por parte do
Governo», queixava-se. Naquela reunião, informou que, em Luanda, já havia
50.000 desalojados, vindos de outras áreas de Angola. E os pedidos de reserva
de transporte para a metrópole ascendiam a 140.000.
Em maio de
1975, havia três exércitos em Luanda e cada um se considerava dono e senhor da
cidade. A segunda batalha de Luanda seria desencadeada no início de julho. O
MPLA acaba por dominar a maior parte da capital. Para a comunidade portuguesa,
acentuava-se a urgência da partida.
Em Lisboa,
acreditava-se que uma nova cimeira poria termo à guerra entre os três
movimentos de libertação. MPLA, FNLA e UNITA reuniram-se entre 16 e 21 de
junho, em Nakuru, no Quénia, sem que Portugal estivesse representado – o que
violava uma das cláusulas do Acordo de Alvor. No texto de Nakuru, não foi feita
qualquer referência a Portugal.
Entretanto, o
MPLA estava a receber armamento pesado vindo da União Soviética e de outros
países do Leste europeu. E a FNLA alimentava os cofres com dólares vindos dos
Estados Unidos. Era a lógica do conflito
Leste-Oeste.
Para Gonçalves
Ribeiro, havia que “aguentar” com um mínimo de dignidade: « E se queriam partir
(os militares) tínhamos de os trazer (os
portugueses). Os militares não podiam partir, deixando lá abandonados aqueles
que queriam vir embora.»
(a continuar)
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