Fui ver se o João Cabral de Melo Neto ainda continuava com dor de cabeça, e encontrei-o a discorrer sobre a tinta de Cesário Verde:
Cesário Verde usava a tinta
de forma singular:
não para colorir,
apesar da cor que nele há,
Talvez que nem usasse tinta,
somente água clara,
aquela água de vidro
que se vê percorrer a Arcádia.
Certo, não escrevia com ela,
ou escrevia lavando:
relavava, enxaguava
seu mundo em sábado de banho.
Assim chegou aos tons opostos
das maçãs que contou:
rubras dentro da cesta
de quem no rosto as tem sem cor.
(…)
Nem dor de cabeça nem aguarela, apenas pomos de ouro num mundo sem cor... Amanhã é sábado! E hoje, que dia foi? Entre a primavera e o outono a escorrer para o inverno, um muro ou será uma muralha? Antiga, muda, sem queixume… só a água a pode colorir.
Sem comentários:
Enviar um comentário