4.12.19

(Des)contextualizando

«Quando nasceu a geração, a que pertenço, encontrou o mundo desprovido de apoios para quem tivesse cérebro, e ao mesmo tempo coração. O trabalho destrutivo das gerações anteriores fizera que o mundo, para o qual nascemos, não tivesse esperança que nos dar na ordem religiosa, esteio que nos dar na ordem normal, tranquilidade que nos dar na ordem política. Nascemos já em plena angústia metafísica, em plena angústia moral, em pleno desassossego político.» Bernardo Soares, Livro do Desassossego

A geração de Fernando Pessoa / Bernardo Soares, nascida no final dos anos 80 do século XIX e entrada na vida adulta na segunda década do séc., é aqui retratada como se tivesse sido empurrada para um beco sem saída… O retrato parece acertado…
No entanto, eu, que nasci na década de 50 do século passado, ao ler este fragmento de Bernardo Soares, vejo-me a pensar que a minha geração, do ponto de vista religioso, era descrente; do ponto de vista doméstico,  vivia à deriva. E quanto ao rumo político, parte da minha geração vivia na completa ignorância, formatada numa ideologia aviltante…
A verdade é que a angústia e o desassossego cresciam no esplendor do existencialismo e, sobretudo, nos campos rubros de papoilas povoados por orquestras anestesiantes, idolatradas como se os deuses tivessem descido à terra.
(…)
E hoje, por onde é que andam a religião, a moral e a ideologia? Há quem as veja nas mesquitas, nos areópagos, nos cais. Em cascatas ou em fiapos…

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