9.5.22

O tempo idiomático e o tempo cultivado por Agrário

(A intenção não foi obviamente essa, mas a frase depreciativa “não adianta, nem atrasa”, aplicada a alguém ou a alguma coisa que pouca ou nenhuma contribuição dê para a solução de determinado problema, é aplicada à relojoaria, uma defesa dos relógios mecânicos.)

Há pessoas que são “relógios de repetição”
“Acertar os relógios”
Alguém é “como um relógio”
Tempos imemoriais (passado muito remoto)
Tempo morto (período de ociosidade)
Tempo útil (prazo legal)
A seu tempo (na ocasião própria)
Atrás do tempo, tempo vem! (exclamação para aconselhar que se espere com paciência por novas oportunidades...)
De todos os tempos
Em dois, em três tempos
Aproveitar enquanto é tempo
Arranjar tempo
Dar tempo ao tempo
Entreter o tempo
Pisar o tempo (fugir)
Tomar tempo a alguém
Tempo da pedra lascada (paleolítico)
Tempo em que Judas perdeu as botas
Tempo das vacas magras / das vacas gordas

As horas canónicas, em que os padres rezavam os ofícios divinos: a hora de prima (ao romper do sol); hora de terça (9 do dia); hora de sexta (meio-dia); hora de nova (3 da tarde); hora de véspera (6 da tarde); horas completas (depois do anoitecer)~

Relógio = coração
Relógio = estômago
Ter “a barriga a dar horas” (ter fome)
O relógio da morte (o caruncho)
“Relógio de Almada” = “o burro quando zurra”

     Camões, Écloga II: “Ao longo do sereno / Tejo...” - excerto.

            Mas tu, Tempo, que voas apressado,

            Um deleitoso estado quão asinha

            Nesta vida mesquinha transfiguras

            Em mil desaventuras, e a lembrança

            Não deixas por herança do que levas!

            Assim que, se nos cevas com prazeres,

            É pera nos comeres no melhor.

            Cada vez em pior te vás mudando;

            Quanto vens inventando, que hoje aprovas,

            Logo amanhãs reprovas com instância!

            Ó estranha inconstância tão profana

            De toda a cousa humana inferior,

A quem o cego error sempre anda em anexo!

Mas eu de que me queixo? Ou que digo?

Vive o Tempo comigo, ou ele tem

Culpa no mal que vem de cega gente?

Porventura ele sente, ou ele entende

Aquilo que defende o Ser Divino?

Ele usa de contínuo seu ofício,

Que já por exercício lhe é devido:

Dá-nos fruto, colhido na sazão

Do fermoso Verão; e no Inverno,

Com seu humor eterno congelado,

Do vapor levantado co’a quentura

Do Sol, a terra dura lhe dá alento,

Pera que, o mantimento produzindo,

Estê sempre cumprindo seu costume;

Assim que, não consume de si nada,

Nem muda da passada vida um dedo,

Antes sempre está quedo no devido,

Porque este é seu partido e sua usança;

E nele esta mudança é mais firmeza.

Mas quem a Lei despreza e pouco estima

De quem lá de cima está movendo

O Céu sublime e horrendo, o Mundo puro,

Este muda o seguro e firme estado

Do tempo, não mudado da Verdade.

Não foi naquela idade de ouro claro

O firme Tempo caro e excelente?

Vivia então a gente moderada;

Sem ser a terra arada, dava pão;

Sem ser cavado, o chão as frutas dava;

Nem chuva desejava, nem quentura:

Supria então Natura o necessário.

Pois quem foi tão contrário a esta vida?

-  Saturno, que, perdida a luz serena,

Causou que, em dura pena desterrado,

Fosse do Céu deitado, onde vivia,

Porque os filhos comia que gerava.

Por isso se mudava o Tempo igual

Em mais baixo metal; e assim descendo

Nos veio, enfim, trazendo a este estado...

Sem comentários:

Enviar um comentário