3.5.22

Se escrevesse cartas

Se escrevesse cartas várias vezes ao dia, e estas ainda fossem respondidas e entregues antes da lua chegar, então registaria que ao acordar logo a dor lombar se sobrepôs ao sol escondido pelos estores fechados... Claro que o destinatário deveria ser masoquista e nada ter para fazer, a não ser o registo sumário de minudências do quotidiano...Tempos houve que o destinatário dessas missivas se prestava a ser incomodado sem nada receber em troca, exceto uma atenção doentia e estéril...
E talvez lembrasse o amigo distante que partiu para o Brasil quando o Sol abrasava a cidade, e do qual, hoje, nada se sabe ou, talvez, haja quem saiba, mas ele tenha decidido que não quer ser incomodado com cartas de falso arrependimento... 
E também poderia recordar o outro amigo, escritor, que já não responde a e-mails porque se fartou da humanidade ou, melhor, da falta dela...
E ainda poderia escrever uma carta à Ucrânia, mas não sei se os bombeiros entregam cartas, já que deixei de ouvir falar de carteiros. Daqui, donde observo a Ucrânia, estou sem perceber se os códigos postais ainda são válidos ou se os russos os roubaram, porque odeiam os mensageiros... 
De qualquer modo, evitaria escrever à Ucrânia por causa do meu hábito de me queixar por tudo e por nada...  pois tudo o que ela me poderia responder acabaria por incomodar-me terrivelmente, mesmo se ela não me pedisse armas... apenas que a libertassem dos jogos de poder.

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