Em Cacela Nova, bem procurei o último livro de José Carlos Barros, mas só encontrei alfarrobeiras! (Nem Rumor!… nem Inês!) No entanto, ao interrogar um “vizinho” sobre o pomar, acabei por perceber que está na hora da colheita da alfarroba que, infelizmente, irá para a Espanha. Pobre indústria transformadora! Em Cacela Velha, o Forte é património das forças da ordem… Mas, a poesia ocupou o lugar (e a toponímia). A força dos poetas está bem visível, desde o tempo árabe à actualidade. Alheio à força humana, o oceano, quase azul, abraça a terra e perde-se no verde estival. ( Nós, a pé, lá fomos e regressámos, sob a canícula, à vetusta estação de Cacela.) |
Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
10.8.11
Cacela e a poesia…
9.8.11
O Arcanjo Negro
No Algarve, em pleno século XXI, o comboio
é servido por uma única linha, por eletrificar… Não se entende como é que a
região que acolhe anualmente mais portugueses e estrangeiros não exige ao poder
central uma ferrovia moderna e “amiga do ambiente”.
Para acompanhar o atraso que testemunho a
cada passo, mesmo quando os governantes sonham com o TGV, continuo a ler
Aquilino Ribeiro – homem que, no seu tempo, sempre lutou contra a
subserviência…
No romance O Arcanjo Negro, terminado em
1939-1940, a acção decorre em Lisboa e arredores, sempre com o Tejo dianteiro,
entre 1925 e 1929. De acordo com o autor, o objectivo era concluir o estudo do
casal lisboeta, encetado com Mónica.
Mónica, que tem metade da idade de Ricardo, sofre os
ímpetos do ciúme do marido que, progressivamente, lhe aprisiona os movimentos e
as ideias, transformando-a numa “monja” incapaz de se libertar do labirinto
psicológico em que vai mergulhando. Em nome da ordem burguesa, sufoca a libido,
desenhando espaços fechados, em que os protagonistas se anulam.
Para além de apresentar três novelas sentimentais,
Aquilino retrata o clima insurrecional que crescia no final da 1ª República,
descrevendo, pelo menos, duas revoltas fracassadas que, no essencial, visavam
restaurar a utopia republicana, mas que falham, pois, a maior dificuldade era
encontrar o «homem clarividente» que desse sentido às aspirações dos
“revolucionários”.
Essa falta de clarividência parece ser explicada pela
natureza do homem português: indigente, doentiamente romântico, hipócrita,
megalómano e, finalmente, mafioso ou simplesmente ladrão de ocasião.
É deste modo que as personagens se vão perdendo, quase
sempre vítimas de cegueira mental, sem espaço de fuga (a não ser a misteriosa
“água-pé da terra natal de Afonso Ruas – Carvalhal do Pombo. Nem o amor
as salva!
Para Aquilino Ribeiro, a redenção estaria no
aniquilamento da raça para, depois, começar tudo de novo…Nem Freud escaparia…
8.8.11
A Sul…
Apesar de continuar a pensar que Álvaro de Campos só “nasceu” em Tavira porque o local, a Sul, abria para o ‘splendor do Longe pessoano, acabo de encontrar a “casa” que simpaticamente lhe foi atribuída pelo município.
De facto, é bem mais fácil alojar uma criatura “fingida” do que um pobre diabo de pouca carne e já escaveirado! O próprio Pessoa o sentiu na pele…
E, aqui, Álvaro de Campos que, a certas horas, aborrecia a leitura, também, tem a sua Biblioteca!
( Aos poucos, as criaturas vão ofuscando o criador!)
6.8.11
Numa esfera distante…
Um exemplo do que desperdiçamos. Pouco mais fazemos do que ir a banhos. Torramos ao sol, indiferentes aos perigos e à miséria, como se vivêssemos numa esfera bem distante.
(…) Ainda não encontrei o engenheiro naval, Álvaro de Campos, e não vejo motivo para que ele aqui tivesse “nascido”! Ainda se ele tivesse sido construtor civil!
5.8.11
Ao entardecer…
Sem o tanger dos sinos, mas com lua cercada de fogo!
Cá por baixo, uma desordem errática!
(…) A esta hora um cantor de feira ecoa, sem saber que atrapalha quem procura dormir. Levantou-se tarde, não almoçou e, talvez, venha a cear uma asa de frango com dois dedos de carrascão…
/MCG
4.8.11
“Com” ou “contra”?
Há quem grite por tudo e por nada!
Gritam com os mais velhos, gritam com os mais novos; gritam com os vizinhos, gritam com os estranhos.
Ainda não percebi por que motivo “gritam com…”, uma vez que “gritam contra…” De verdade, deveriam era “gritar contra si próprios” porque não sabem o que é o respeito pelos outros.
Infelizmente, as vítimas pouco podem fazer contra os déspotas que se escondem por detrás dos muros, sob o manto da cultura ou do poder financeiro.
E de nada deveria servir argumentar que estes “infelizes” foram, também, eles vítimas de ambientes familiares desfavoráveis. O meio e os genes não explicam tudo!
Falta-lhes a vontade de mudar; sobra-lhes a maldade…
3.8.11
Do alto…
Quando olho fotos mais antigas, apercebo-me que outrora subia aos castelos para me sentir senhor de uma paisagem que não era minha.
Esta ideia de posse, hoje, não faz qualquer sentido. Passámos a olhar reverencialmente os castelos sem lhes conhecer os senhores.