27.2.14

Ideias... boas, más!

As ideias não são boas nem más!
Há ideias que trazem paz e outras, sangue...
Entre ambas, pouco há a dizer.
O Poeta, no entanto, em tempo de abulia, lá ia recitando: «Nem paz nem guerra / nem lei...»
O resto é Disputa!

25.2.14

Ofuscados

Há quem teça para se esconder, apenas a paisagem espera que taciturnos figurantes a atravessem. Sob o arco, de costas para as colunas, os olhos ofuscados adivinham a forma da muralha alcandorada num tapete verde que, do lado invisível, se precipita para o mar adiado... 
O arco pode ser do triunfo e ter sido construído para celebrar a chegada de joaquina e joão. O Povo apinhado, olhos ofuscados pelo esplendor não deixaria de celebrar as vestes reais.
Na retina, grupos juvenis, sentados no empedrado, ainda procuram sob a moldura os dourados que descem do sol e, por momentos, fica a sensação de que no lugar do carvão deveria estar o ouro ou a lágrima da moura expulsa da alcáçova...
Não muito longe, a torre sineira, sem cabaça, dá notícia da masmorra... e eu deixo de fora uma mão que vai afagando os pés de algum transeunte inseguro, mesmo que possa acabar exposto no pelourinho fronteiriço à gula da real. 
Perante a prosápia que hoje tive que suportar, nem o marquês nem maria, nem joão nem joaquina, com ou sem bigode, serão capazes de me fazer descrever a viagem do maestro ao volante de um fulminante chevrolet...

24.2.14

Bem-vindos à plastisfera do Teste intermédio

Ao contrário da caruma, o plástico não é biodegradável. Aos poucos, o planeta vai sendo plastificado e a caruma mais não é que acendalha involuntária. 
Na pessoana ilha extrema do sul ainda haveria caruma, apesar do poeta, cedo, ter prescindido do leito vegetal em que os amantes saboreariam o leite de coco... Em Pessoa, o amor é antecipadamente plastificado... e nem o luar o pode alegrar nem atear.
Já para o Príncipe dos Poetas não se podia viver que, a todo o momento, lhe podiam furtar a esteira, a escrava, a pena e o tinteiro, sem esquecer a própria vida... O que ele mais temia era o céu sereno, isto é, plastificado, porque a sua impassibilidade escondia a perfídia que lhe roubaria a amada e a deitaria ao abismo.
Quanto ao imperador da língua portuguesa, ao plástico preferia o cartão! As naus da Índia, da Soberba, da Vingança, da Cobiça e da Sensualidade jazem num mar de sargaços...

Da alegoria fingida, os autores do Teste Intermédio não quiseram ver o que se esconde por baixo do terraço e por isso eliminaram a Nau da Cobiça e a Nau da Sensualidade. Eliminaram as figuras de autoridade e mataram a competência argumentativa de Vieira... talvez porque pensassem recuperá-la no Grupo III: « Defenda um ponto de vista pessoal sobre o papel que a palavra pode assumir no mundo atual.»
- Um belo exemplo de enunciado plastificado!

  

23.2.14

"Individadamento" e autofagia

«... e os bonitos, ou os que querem parecer, todos esfaimados aos trapos; e ali ficam engasgados e presos, com dívidas de um ano para outro ano e de uma safra para outra safra, e lá vai a vida.» Padre António Vieira
Pouco interessa o século, pouco interessa o Sermão! No essencial, nada muda na exploração, na vaidade e na dívida. Para evitar males maiores, já deveria ter sido criada uma disciplina que ensinasse a história da dívida aos jovens deste país. E, assim, já estariam familiarizados com o campo lexical da dívida, evitando erros desagradáveis, porque o erro não resulta apenas de disléxica teimosia, interna desatenção, rebaixamento social...
Apesar da dívida ser tema nacional, alguns dos meus alunos preferem escrever "individados" a endividados. E temo que, um dia destes, os novos gramáticos, se tal categoria ainda sobrevive, legitime, após aturada análise estatística, a opção "individados". Explicá-la-ão como resultado de um processo fonológico de assimilação completa, pois terá obedecido à lei do menor esforço e, sobretudo, a um ato de autofagia...

22.2.14

CARUMA deveria extinguir-se hoje!

CARUMA deveria extinguir-se hoje!
Em 2005, a caruma era tapete para a autocaravana que iria acompanhar-me na reforma logo que chegasse aos 36 anos de serviço efetivo. Em 2005, ainda parecia possível viajar, conhecer os lugares mais recônditos, aproveitar a vida antes que ela desfalecesse...
Só que ainda em 2005, tudo começou a mudar para pior. As leis tornaram-se voláteis, colocando-se ao serviço do oportunismo político do momento. De lá para cá, a remuneração não parou de diminuir, os preços dos combustíveis e das portagens não pararam de aumentar. As regras da aposentação deram paulatinamente lugar a novas regras: o cálculo do valor da reforma foi mudando e valor a auferir diminuindo sob o ditact da TROIKA.
Entretanto, a autocaravana foi-se imobilizando e tornou-se  uma fonte de prejuízo, facto que retirou a caruma de cena... agora já era só asfalto.
Assim, no dia em que Passos Coelho vê um futuro radioso, a autocaravana partiu, e eu vejo-me obrigado a antecipar a reforma, com a penalização que os políticos do momento decidirem... O problema é que a Nau vai cheia de desiludidos como eu!

Doravante Caruma continuará, mas sem chama... 

21.2.14

Praxistas mamões

«Cortámos aos que têm mais para poupar os que têm menos!» O democrata Passos Coelho dixit.

O princípio parece correto, cristão e até social-democrata, agora que a social democracia quer voltar a esconder o partido popular democrático...
O princípio também parece decorrer da doutrina social da igreja e até o papa franciscano não lhe poderá ser indiferente!
O problema é que o corte é cego e repete-se duas a três vezes ao ano, sem dar conta que, entretanto, muitos dos que tinham mais passaram a ter menos e que alguns dos que pareciam ter menos têm agora mais e, principalmente, que há uns tantos que passaram a ter muitíssimo mais. 

O termo MAMÃO não é muito elegante, mas serve para designar dois grupos fraternos que se têm multiplicado à sombra da social democracia - o dos que não param de mamar e o dos parvos.

De qualquer modo,  a simples ideia de que  governar é cortar a torto e a direito só pode pertencer a alguém que nunca percebeu o ideário social democrata ou a doutrina social da igreja. 

Enfim, estamos a ser governados por praxistas mamões! Só resta saber se sado-masoquistas, se ressabiados... 

20.2.14

Em tempo de avaliação externa

Ainda antes de confirmar que o FMI segue cartilha diferente da do Governo, comecei o dia a pensar em situações de dissonância.
Por exemplo, na capital portuguesa, há uma escola secundária que, em certos dias, quer ser básica, mas que, na verdade, se considera liceu.
Uma escola que acaba de recuperar o ESCUDO em tempo de EURO e que se prepara para continuar a substituir as janelas da fachada quando as fissuras se escancaram...
Uma escola onde há plátanos decíduos que impõem trabalhos forçados a funcionárias mal remuneradas...
Uma escola onde há avenidas de tílias, galerias sob beirais maltratados... uma escola onde a figueira de judas se esconde lá para os lados da horta ou será do horto?
Nesta escola que, orgulhosamente se considera liceu, há música nos intervalos e nos salões. E nas altas estantes há livros que ninguém folheia. E também  há alunas e alunos foliões e professores reduzidos a tostões...

Alheias a tudo, chegam as vassouras com a missão de desenhar uma saída limpa para a nação, e nós lá vamos dando uma mãozinha e dobrando a espinha.