20.3.15

O Livro dos Homens sem Luz

O Livro dos Homens sem Luz (2004), de João Tordo (n. 1975).

Este primeiro romance é constituído por quatro tempos, com início em 1919 e termo em 1959: Diários de Londres (I); Soterrados (II); Insónia (III); Brighton (IV). 
A maioria dos leitores, ao descobrir este novo romancista, pôs em destaque a sobriedade do léxico, do estilo e da construção, por vezes labiríntica. Entretanto, quanto ao temário, vale a pena destacar a solidão, sobretudo, do homem... embora a mulher se revele mais resistente e audaz, e a dor, sem esquecer a angústia e a náusea
Dir-se-á que o autor quis pôr à prova a resistência humana, explorando os limites e as taras na duração desenhada de forma linear e sequencial. Num século de guerras ( XX), a paz continuou a ser tempo de tortura. Depois da mecanização, da espionagem e da guerra, os emparedados continuaram a ser torturados num universo onde pontificam as soluções apresentadas pelas novas ciências do espírito - a psicologia e a psiquiatria.
No final, em parte incerta, continuam Joseph, Magda e Daniel... talvez, a luz arredia... 

19.3.15

Vais ficando para trás...

Vais ficando para trás. Por enquanto, vislumbro ainda um rosto, sisudo que, em raras horas, se abria para a novidade. Nunca falámos verdadeiramente, havia sempre contas por ajustar... O tempo não era de afetos, horas severas de míngua e de distância...
A partir de uma certa mudança, já não exigias nada, mas creio que ainda esperavas alguma coisa. Depois, numa certa manhã, deixaste de ser capaz de suportar o fardo, e antecipaste a partida e nada mais disseste. Eu ainda esperei sete dias... e partiste novamente a salto e eu fiquei do lado de cá da fronteira...
Vais ficando para trás. Paradoxalmente, eu estou cada vez mais perto...
(No dia do Pai.)

Tem português que é cego e surdo!

De acordo com o Boletim Estatístico hoje divulgado pelo BdP, a dívida pública na ótica de Maastricht, a que conta para Bruxelas, subiu de 224.477 milhões de euros em dezembro de 2014 para 231.083 milhões em janeiro deste ano.

Também a dívida líquida de depósitos da administração central subiu entre os dois meses, em cerca de 170 milhões de euros, de 206.971 milhões em dezembro para 207.143 milhões de euros em janeiro.

Não há dia nem lugar em que os governantes não nos assegurem que a situação financeira e económica recupera de forma sustentada. Perante tal argumento, os portugueses dormem descansados e mesmo os que não têm trabalho continuam, sorridentes, à espera....
Afinal, ignorantes como somos, que importa que a dívida pública tenha atingido, em janeiro de 2015, o valor de 231.083 milhões de euros? 

Entretanto, a contabilista da República assegura que os cofres estão cheios. Quais? De quem?

Tem português que é cego e surdo!

18.3.15

Nunca fomos tão felizes!

Há cada vez menos lugares que não se encontrem sob vigilância ativa ou passiva. Consequência: vivemos no tempo da encenação. Nem os narcisistas podem espreitar o espelho da imperfeição sem que uma sombra lhes perturbe o olhar...
Talvez a máscara pudesse ajudar a preservar a intimidade ou até a naturalidade, mas, nos dias vigilantes, o uso de máscara torna-nos suspeitos.
Por um tempo, a censura interna e externa ocupou-se da tarefa de nos colocar na ordem, e a ambição do homem passou a ser soltar-se, derrubar os muros duramente edificados...

Entretanto, por agora, somos extensões e carregamos próteses de redes que nos prometem que nunca mais estaremos sós. 
Tudo o que dizemos ou fazemos e até sonhamos está sob custódia 24 horas por dia, independentemente do lugar onde nos encontremos...
Nunca fomos tão felizes! 

17.3.15

Dos homens...

Não me parece que «os homens sem luz»  (João Tordo, O Livro dos Homens sem Luz ) sejam semelhantes aos «homens falsos» ( Alberto Caeiro, Se às vezes digo que as flores sorriem). 
Caeiro confessa que escreve,  «sacrifica(ndo-se) às vezes / à sua estupidez de sentidos» porque estes homens, à força de argumentos mais ou menos místicos, insistem em inventar sentidos e tropos sem qualquer cabimento... Os homens, ao soltarem-se da Natureza, tornam-se bipolares: esmagados pela vaidade não resistem à depressão e vivem sós até que a morte os restitua à Natureza...
Por seu turno, «os homens sem luz» vivem em espaços concentracionários reveladores da sua verdadeira condição: bichos que se vão soltando das grilhetas que eles próprios produziram para os seus semelhantes... Libertos da verticalidade, emudecem em pântanos de asfixia...
(...) 
Quando, por instantes, ouço ou leio os títulos das notícias do dia, fico com a sensação de que os homens sacanas de Miguel Cadilhe  não fazem parte nem dos «homens falsos» nem dos «homens sem luz». São de outra espécie ou, melhor, de outra casta mais elevada...

PS. Sobre a origem da palavra "sacana": http://etimoteca.blogspot.pt/2012/12/sacana_19.html

16.3.15

Uma nova tese sebástica

A liberdade tem um preço que nem todos querem pagar.

Esta era a tese e, de repente, uma nova tese, cuja fonte me recuso a citar: « como foi o caso de D. Sebastião que para não enfrentar a guerra e a possível derrota, fugiu às suas responsabilidades como rei.»

Afinal, o rei  Dom Sebastião desapareceu antes de entrar em combate. Provavelmente, nem terá partido. Talvez tenha apodrecido nos cárceres da Santíssima Inquisição, às ordens do Inquisidor-Geral, Cardeal Dom Henrique, demasiado apegado à governação dos assuntos terrenos...

Esta nova explicação da História de Portugal é um exemplo de como a liberdade não tem preço ...
De repente, uma nova verdade saltou dos braços da liberdade! Pode ser uma verdade imperfeita, mas faz sentido... 
(...)
Se o objetivo da perfeição se perdeu na secura das areias, que falta faz o rigor, que falta faz o sentido da responsabilidade?

15.3.15

(Des)apontamento

A - Na Fundação Calouste Gulbenkian, José V. de Pina Martins - Uma Biblioteca Humanista - sob o lema, um pouco pretensioso, Os objectos procuram aqueles que os amam...
A ver até 26 de Maio de 2015.
Trata-se de uma "biblioteca" geográfica, no tempo e no espaço, que procura pôr em diálogo alguns dos vultos mais importantes do humanismo europeu. 
No que me diz respeito, José V. de Pina Martins sempre foi uma fonte preciosa para a abordagem da cultura e da literatura do final da Idade Média e dos séculos XV e XVI. Só que com a passagem do tempo, vi-me obrigado a afastar-me de tal época, um pouco como se o passado fosse causa dos males presentes...

B - Segundo o jornal Folha de São Paulo, na sua versão online, os manifestantes já estão nas ruas em cidades como Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e, até ao momento, os protestos estão a ser pacíficos.
Em causa está a cumplicidade da Presidente (a) do Brasil com a corrupção.
Por cá, há quem diga, na rádio, o que certos meios políticos pensam: AS RUAS SÃO UM SÍTIO PARA ANDAR... Falta-lhes, no entanto, a coragem. 
Por enquanto!