Não me parece que «os homens sem luz» (João Tordo, O Livro dos Homens sem Luz ) sejam semelhantes aos «homens falsos» ( Alberto Caeiro, Se às vezes digo que as flores sorriem).
Caeiro confessa que escreve, «sacrifica(ndo-se) às vezes / à sua estupidez de sentidos» porque estes homens, à força de argumentos mais ou menos místicos, insistem em inventar sentidos e tropos sem qualquer cabimento... Os homens, ao soltarem-se da Natureza, tornam-se bipolares: esmagados pela vaidade não resistem à depressão e vivem sós até que a morte os restitua à Natureza...
Por seu turno, «os homens sem luz» vivem em espaços concentracionários reveladores da sua verdadeira condição: bichos que se vão soltando das grilhetas que eles próprios produziram para os seus semelhantes... Libertos da verticalidade, emudecem em pântanos de asfixia...
(...)
Quando, por instantes, ouço ou leio os títulos das notícias do dia, fico com a sensação de que os homens sacanas de Miguel Cadilhe não fazem parte nem dos «homens falsos» nem dos «homens sem luz». São de outra espécie ou, melhor, de outra casta mais elevada...
PS. Sobre a origem da palavra "sacana": http://etimoteca.blogspot.pt/2012/12/sacana_19.html
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