20.6.06

O sorriso escarninho virou esgar...

( Ao contrário de Alberto Caeiro, quero homenagear todos aqueles que, ainda, não desistiram de procurar o sentido íntimo das coisas...)
Neste tempo de imobilidade, enquanto que eles, padronizados, estão aplicados na resolução da prova de sociologia, desloco-me mentalmente na tentativa de compreender o sorriso escarninho que acompanha habitualmente a referência a qualquer ex-seminarista ou ex-padre, como se um ferrete os marcasse definitivamente, tornando-os objecto de uma curiosidade mórbida.
Apesar de se tratar de uma espécie em extinção, o estigma denuncia-os indelevelmente: no modo de falar, no tom, no olhar de soslaio, no andar, no vestir, no excesso do gesto... na forma de estar retraída ou afectada. Provavelmente, a dissolução provoca sempre um labéu e o sorriso escarninho irrompe sempre que a mancha infamante pede a nossa cumplicidade, nos arrasta para a esquerda de Deus... (asserção que não é possível comprovar na sura!)
(...)
Esse sorriso escarninho, que me persegue desde manhã cedo, virou esgar naquele acampamento de vozes desgrenhadas que clamamavam vingança... mas, à medida que a sombra avança, a caruma recolhe as beatíficas agulhas e regressa à imobilidade inicial...e não raras as vezes ao abjecto torpor do sono efémero...

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