4.11.10

A turbulência do verbo…

«Entre a infância e a idade adulta há todo um espaço acidentado, possivelmente ainda mais acidentado do que a infância. É um estado interior, turbulento, agreste. As vinhas e as silvas parecem ter ficado para trás, só que agora são mais robustas e emaranhadas, ainda que menos visíveis do exterior. Estes anos de perigosa transição representam a ascensão às colinas do desconhecido. Às vezes, roubam-nos o ar, noutras perturbam a visão.»Tenessee Wiliams,  A Semelhança entre um estojo de violino e um caixão.

Na literatura, mais do que o enredo, o que desperta a minha atenção são as ideias. Quando as encontro, páro e viro-as do avesso à procura da sua consistência, da verdade ou da mentira que orientam a acção. Fico refém de atalhos, como, por exemplo, se as «vinhas e as silvas» significam alguma coisa para os jovens de hoje… E a resposta encontro-a naquela «cepa ateniense» totalmente desconhecida de uma das minhas turmas do 11º Ano… Ésquilo perde num ápice a origem e a substância, ameaçado de perdição, eliminado o acento esdrúxulo. Ésquilo, o tragediógrafo, vira esquilo…

Ao contrário da pergunta fácil do tempo da infância, há, agora, na transição, um crescente desinteresse pela novidade da palavra, um imperial desprezo pelo testemunho alheio, como se não houvesse nem passado nem futuro…

E é esse desprezo que se torna preocupante: ao recusar o verbo, não lhe entendendo a práxis, acaba por se silenciar a comunicação.

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