12.7.11

ALDEIA, Aquilino Ribeiro

Vou dar a leitura de ALDEIA (1946) por terminada. Uma obra difícil de classificar! O autor atribuiu-lhe o subtítulo “Terra, Gente e Bichos”, o que me parece adequado, pois retrata a terra montanhosa e pobre, frequentemente, na perspectiva do caçador, a gente lapuza e improgressiva, ignorante, violenta e néscia, e, finalmente, os bichos solidários, se domésticos, e ameaçadores – os lobos.

O conhecimento da terra, da gente e dos bichos é genuíno. O autor inquiriu de tal modo cada um dos temas que a nomeação e a qualificação se revelam terminologicamente precisos e sistémicos, obrigando o leitor a um efectivo esforço metalinguístico.

O ponto de vista de quem – supostamente influente – abandona o Chiado para mergulhar na serra da Nave, é implacável para com a Gente da ALDEIA, boa fornecedora de estórias de pedintes, espoliadores, parricidas, salteadores sanguinolentos, mas incapaz de contrariar o atávico mimetismo que faz das serras testemunho de tempos imemoriais. ( Os antropólogos deviam ter a obra de Aquilino Ribeiro como leitura propedêutica!)

São 15 capítulos, ligados pela Terra, que apresentam a origem, as tradições, a força dos elementos, o comunalismo primevo, estórias de torna-viagem, a acção dos caciques e, sobretudo, a miséria de um país que resiste à mudança…

São 15 capítulos cuja leitura é, muitas vezes, lenta porque nos distanciámos das coisas e dos seres, e, sobretudo, porque, ao perdemos a língua das Gentes, ficamos irremediavelmente desenraizados.

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