22.12.15

Na barbearia com Lídia Frade

Com este frio, decidi cortar o cabelo. Quem me atendeu foi a senhora Lídia Frade, a contas com uma tendinite que lhe limita o movimento de braços tão necessários à tarefa.
Nos últimos meses, a senhora já tinha partido um pé, o que, como se compreende, não a terá ajudado no negócio.
Enquanto me desbastava a trunfa, íamos trocando opiniões sobre o sistema de saúde, pois, infelizmente, temos algum conhecimento das limitações do SNS. Por exemplo, a dona Lídia necessita de fisioterapia, mas vê-se obrigada a pagá-la do seu bolso, pois o SNS só lhe disponibiliza o serviço no Hospital Curry Cabral, com a consequente perda de tempo e custo acrescido resultante de deslocação de táxi... 
Terminada a tarefa, paguei por uma tabela que eu próprio determino. E nesse momento, a senhora Lídia ofereceu-me um SEU livro de poemas com a seguinte dedicatória:

Sr Manuel Gomes,
A vida é complemento e história de vidas
A autora,
Lídia Frade

Do livro Amor Eterno / Interregno e Silêncio
Zaina editores, 2010

                                     transcrevo o poema FOGO

Que arde, percorre, consome
Passando da abundância à fome.

Ficando sem norte
Destrói sentidos, perdidos,
Consome a vida, deixando a morte.

Fúria incandescente,
Engole viva, a semente
Que deixa estéril o presente.

Por onde passa, arrasa
Que voa sem asa
Galopa sem rédea
E deixa sem casa.

É no fogo afinal,
Que está a cor de desejo
O tilintar do vil metal
E cinza de sonhos
E o sadismo do mal.

                                                   (Afinal, os barbeiros sempre amaram a poesia ou será impressão minha? Relembro Domingos Reis Quita, António Variações...)

Sem comentários:

Enviar um comentário