31.10.16

Os Frutos da Terra, de Knut Hamsun

Embora haja quem o considere o autor europeu mais influente em 1920, ano em que lhe foi atribuído o prémio Nobel de Literatura, a verdade é que, até esta data, eu nunca lera nada do norueguês Knut Hamsun (1859-1952).
Acabo de ler Os Frutos da Terra (1917), romance que me foi oferecido com uma menção que me deixou perplexo - esta narrativa corresponderia ao meu rosto... Li-o, assim, na perspetiva do margrave Isak, o colono que ousou desbravar terras norueguesas inóspitas próximas da Suécia...
Esclareça-se desde já que desconhecia por inteiro o termo "margrave" e, sobretudo, que significa "título dado outrora aos príncipes soberanos de certos estados fronteiriços da Alemanha." Quanto ao título, não vejo razão para que alguém me considere "margrave", apesar de, por vezes, me sentir posto à margem, e não senhor da "margem", relembrando, agora, que um dia distante, Maria de Lurdes Pintasilgo me terá dito que toda a margem tem um centro...
De qualquer modo, li as 382 páginas em muito pouco tempo, pois a narração é suficientemente diversificada para, a partir de um núcleo - Sellanraa - se dispersar por vários caminhos que põem diante do leitor: a apologia da sociedade agrícola, a fraqueza do dinheiro, a precariedade da vida urbana e principalmente dos valores em que esta assenta, sem esquecer a fogosidade da mulher, capaz de incensar o companheiro, mas também de o desprezar e de matar os próprios filhos...
O romance termina com a vitória do modelo rural sobre a modernidade, abrindo caminho a um certo de tipo de sociedade patriarcal que tantos estragos viria a provocar na primeira metade do século XX... o que, talvez, explique a simpatia de Knut Hamsun pelo regime nazi...
Enfim, apesar de publicado em 1917, não encontrei qualquer referência à Primeira Grande Guerra. Explosões só as resultantes da extração de azurite - pedra ideal para eliminar os obstáculos que se nos atravessam na vida.

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