24.10.19

A rua dos trastes

A rua não pode ser uma lixeira para onde se lançam os detritos, os trastes, os filhos, os desadaptados, os desempregados, os estropiados, os delinquentes e os idosos…
A rua das esplanadas e das ciclovias não consegue esconder a pobreza social e cultural que prolifera nas cidades, pretensamente modernas... 
A rua dos trastes, um destes dias, será dos corvos.
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Com lixo, dinheiro dos outros, e sangue inocente,
Cercada por assassinos, traidores, ladrões (a salvo)
No seu caixão francês, liberalissimamente,
Em carro puxado por uma burra (a do estado) seu alvo,
(…)
Passa para além do mundo, em uma visão desconforme,
A República Democrática Portuguesa.
O Lenine de capote e lenço,
Afonso anti-Henriques Costa.
Mas o Diabo espantou-se: aqui entram bandidos
Até certo ponto e dentro de certo limite.
Assassinos, sim, mas com uma certa inteligência.
Ladrões, sim, mas capazes de uma certa bondade.
Agora vocês não trazem quem tivesse tido a decência
De ao menos ter uma vez dito a razão ou verdade.

Fernando Pessoa

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