28.4.20

O ator secundário

«... a morte devia ser um gesto simples de retirada, como do palco sai um ator secundário, não chegou a dizer a palavra final, não lhe pertencia, saiu apenas, deixou de ser preciso.» José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto editora, p.360

Dizem que  culpa é de um vírus - o protagonista. De facto, as vítimas deixaram de ter nome. Mais não são que dados estatísticos, nos quais não sabemos se podemos acreditar.
Nas guerras ainda havia o cuidado de elaborar listas de nomes para mais tarde se erigirem memoriais, agora escondem-se os nomes como se fossem leprosos.
Já não se sabe se as vítimas deixaram de ser precisas ou se não estarão a prestar um serviço silencioso aos estados de todo o mundo.
Todos os dias se aborda necessidade de por um travão na crise económica, creio, no entanto que essa crise chegou bem antes do protagonista. 
Convém não esquecer que a maioria das vítimas já era apontada como causa da crise. A peste grisalha!

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