Como dissemos, as linhas de demarcação entre passado, presente e futuro
modificam-se constantemente, porque os próprios sujeitos para quem um dado
acontecimento é passado, presente ou futuro se transformam ou são substituídos
por outros. Eles se transformam individualmente, no caminho que os conduz do
nascimento à morte, e colectivamente, através das sucessivas gerações (e também
de muitas outras maneiras). É sempre em referência aos seres vivos do momento
que os acontecimentos se revestem do carácter de passado, presente ou futuro. A
sequência social dos “anos que correm” (do ano 1 ao 2000 e além dele)
desenrola-se, exactamente como as sequências principais de uma evolução estelar
ou biológica, sem qualquer referência a seres humanos determinados. Por esse
ponto de vista, entretanto, existe uma diferença entre as sequências de carácter
social e as que, alheias ao homem, são de carácter puramente físico. Nas
sociedades humanas, a experiência vivida de sua estrutura evolutiva pode
contribuir para modelar o desenrolar dos próprios processos sociais. Por isso é
que a experiência vivida das sequências de acontecimentos é parte integrante,
na ordem social, do próprio desenrolar dessas sequências. Mas isso não acontece
com relação ao que chamamos de “natureza”,
isto é, à dimensão física do universo.
Assim, o esclarecimento das relações, por vezes confusas, que se estabelecem entre conceitos temporais do tipo “ano”, “mês” ou “hora” (ou também “antes” e “depois” ) e conceitos do tipo “presente”, “passado” e “futuro” leva-nos a uma conclusão meio inesperada. Os conceitos do segundo tipo não se aplicam ao nível físico, àquilo que chamamos “natureza”, onde a causalidade mecânica passa, com ou sem razão, pelo modo representativo de ligação. Ou então, só se aplicam a ela na medida em que haja seres humanos que remetem a si mesmos os acontecimentos que se desenrolam nesse plano. Os conceitos de “presente”, “passado” e “futuro”, de qualquer modo, só podem relacionar-se com o perpetuum mobile das cadeias causais que compõem a natureza com base numa identificação de carácter antropomórfico, como quando se fala do futuro do Sol.
(…) O presente é aquilo que pode ser imediatamente experimentado, o passado é o que pode ser rememorado, e o futuro é a incógnita que talvez ocorra, algum dia.
Norbert Elias, Sobre O Tempo, 65-66, Zahar, 1998
Assim, o esclarecimento das relações, por vezes confusas, que se estabelecem entre conceitos temporais do tipo “ano”, “mês” ou “hora” (ou também “antes” e “depois” ) e conceitos do tipo “presente”, “passado” e “futuro” leva-nos a uma conclusão meio inesperada. Os conceitos do segundo tipo não se aplicam ao nível físico, àquilo que chamamos “natureza”, onde a causalidade mecânica passa, com ou sem razão, pelo modo representativo de ligação. Ou então, só se aplicam a ela na medida em que haja seres humanos que remetem a si mesmos os acontecimentos que se desenrolam nesse plano. Os conceitos de “presente”, “passado” e “futuro”, de qualquer modo, só podem relacionar-se com o perpetuum mobile das cadeias causais que compõem a natureza com base numa identificação de carácter antropomórfico, como quando se fala do futuro do Sol.
(…) O presente é aquilo que pode ser imediatamente experimentado, o passado é o que pode ser rememorado, e o futuro é a incógnita que talvez ocorra, algum dia.
Norbert Elias, Sobre O Tempo, 65-66, Zahar, 1998
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