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23.8.11

De férias, à beira do abismo…

À beira do abismo, o Parlamento está de férias. O Governo suspende qualquer projecto que possa criar emprego e subsidia empresas públicas e privadas falidas´.

A falência, por exemplo, dos bancos não é admitida… e os contribuintes pagam a crise! Sempre pensei que a falência pudesse ser uma forma de nos libertar de produtos tóxicos e, simultaneamente, de gerar novos empreendedores.

De facto, continuamos a ser governados pelos interesses instalados, de tal modo que o melhor é pedir emprestado, hipotecando a soberania, para anestesiados, irmos de férias…

1.9.10

Na Quinta de Santa Iria…


Há, de facto, galináceos e coelhos. Os últimos são tão imprevistos e rápidos que o fotógrafo não tem tempo de “sacar” da máquina fotográfica. E os primeiros, apesar de os poder vizualizar em miniatura, quando tento carregar a respectiva imagem, verifico que o resultado é bem diverso. Milagres da tecnologia!
Por isso, aqui lanço duas fotos da Quinta de Santa Iria, na estrada de Caria, Covilhã. Esta quinta pertence ao Cofre de Previdência.

MCG

7.8.10

Preia-mar em Burgau

Ir de Valverde a Burgau, em transporte público, é uma aventura. Os horários afixados nas paragens não servem de nada, embora possam ser considerados como sinais de esperança! Atravessar a vila da Luz revelou-se quase tão difícil como dobrar o Cabo das Tormentas. Na sequência de uma primeira avaria envolvendo um autocarro ONDA, deu-se um segundo acidente envolvendo outro autocarro ONDA; e eu, que viajava num terceiro autocarro ONDA fiquei retido num cotovelo de estrada que há muito deveria ter sido desfeito se houvesse algum planeamento no concelho de LAGOS, à espera que a polícia apeada surgisse para pôr um pouco de ordem no drama.
Estancado o trânsito, tiradas as medidas aos veículos envolvidos, o segundo ONDA pôs-se em marcha, deixando a condutora do outro veiculo sinistrado a contas com a autoridade, pois a vista da senhora há muito que deixara de ser capaz de traçar uma perpendicular… Quanto ao terceiro ONDA acabou por seguir viagem, ignorando os passageiros que estariam na paragem da Igreja a contas com o primeiro ONDA avariado… Enfim, lá cheguei a BURGAU, onde o mar é quem manda e a maioria dos restaurantes só abre às 18 horas. Vá lá saber-se porquê!
Como o meu almoço não interessa a ninguém, pois só me dá duplo prejuízo, refiro, no entanto que, no restaurante BARRACA, servem benzinho e são simpáticos. O pior foi o regresso, depois de uma hora na paragem, acabei por entrar num quarto ONDA que para me trazer a Valverde, me levou à Praia da Luz, me fez regressar a Burgau, e de novo à Praia da Luz, para, finalmente, me deixar no lugar de destino…
Um belo exemplo de economia planificada…

5.8.10

A pretexto…

O Algarve é pequeno e diverso. Cheguei a Valverde, parque da Orbitur, que, depois de eu ter entrado, me enviou um e-mail a dizer que, nesta época do ano, não fazem reservas. Simpáticos! O parque está cheio de franceses, de italianos e de espanhóis, isto sem falar nos ingleses que, na zona, são senhores.
Ao fim da tarde, viajei até à Praia da luz, tendo tido a oportunidade de descobrir que os condutores dos autocarros lidam melhor com as libras do que com os euros. Praia a esvaziar e um vento frio a fazer-se sentir. Inesperadamente, acabei a visitar as ruínas romanas que, oficialmente, encerram às 17 horas.
Afinal, os árabes e os romanos chegaram a este lugar muito antes dos portugueses e dos ingleses!

A vila de Alvor

Saio da vila de Alvor, do camping da Dourada, com uma frase na cabeça. De manhã cedo, uma agente da autoridade comentava com um almeida: «Quando chego à zona ribeirinha, e olho à direita e à esquerda (registo no relatório de ocorrências de ontem), vejo duas realidades bem contrastivas.» No essencial, esta agente relatou tudo o que eu penso sobre a vila de Alvor.

Entretanto, percebi que a agente faz acompanhar o seu relatório das devidas fotos para que o seu chefe possa, de forma documentada, interpelar quem de direito. E, também, senti uma certa ironia naquela afirmação devidamente corroborada pelo almeida que continuava a varrer o lixo que os ébrios turistas tinham abandonado na via pública…

Finalmente, continuo sem saber quem é que lê os relatórios diários dos milhares de agentes de autoridade e quais os efeitos na melhoria da qualidade de vida das populações…

(Nem só de literatura se faz o discurso!) 

4.8.10

O casulo…

Lá dentro, não mora ninguém! A cigarra, com a canícula, libertou-se para nos dar cabo dos ouvidos. Arreliado com o canto, apetece-me exclamar como o Teixeira de Pascoaes: o ruido estridente e monótono da cigarra é literatura. Com as devidas distâncias, pois Pascoaes, no momento em que redigiu o aforismo, pensava num cão: o ladrar é literatura.

3.8.10

Na praia de Alvor… com procurador

Hoje, desci à praia de Alvor. Um areal imenso prenhe de corpos. Lá arranjei um buraco para me esconder de mim mesmo, enquanto lia 4 ou 5 páginas do DN sobre a morte do antigo director, Mário Bettencourt Resendes. Claro está que quando um homem morre só tem qualidades (de facto, eu até gostava da serenidade do comentador!) Percebi que quando o Mário se zangava mudava o registo de língua para Os Açores, o que, a mim, me faz falta – talvez haja por aí um registo ribatejano falho de vogais que simplifica de tal modo a fala que nenhum interlocutor chega a saber o que queremos dizer, os ribatejanos.

Enquanto o calor me obrigava a pensar em atirar-me à água, ia percebendo que, mesmo ao lado, no jornal, morava o meu vizinho, da Portela, procurador da república, que se imagina rainha da Inglaterra. Nunca percebi esta falta de consideração pela (velha) rainha e, consequentemente, pelos seus súbditos que nos cultivam o Algarve! E já é tempo, de 100 anos depois de instaurada a república, deixar de estabelecer analogias com a monarquia, a não ser que o procurador queira ser um monarca…, o que, repentinamente, me faz pensar que o melhor é pôr-me a averiguar por que motivo veio D. João II falecer em Alvor.

De qualquer modo, não consigo compreender porque é que o procurador não bate com a porta, e põe cá fora tudo o que sabe. No meio de tudo isto, parece que a investigação só existe para afastar, de qualquer modo, as acusações feitas a alguém,  ou, pelo contrário, para incriminar, custe o que custar, quem lhe sai ao caminho…

( E o maldito calor sufoca-me e atrofia-me a mente!)   

/MCG

2.8.10

Lição de uma rola…



Nem todas as obras cumprem com a mesma eficácia o objectivo para que foram criadas.  Umas deviam tratar-nos do corpo; outras da alma. As primeiras, rasteiras, passam despercebidas; as segundas, altivas, elevam-se aos céus. Descrente das primeiras, quiseram-me purificar a alma. Resisti por palavras e omissões até ao dia em que fui convidado a repensar a minha vocação. Ainda, hoje, não sei onde é que perdi o apelo do céu (ou seria da terra?); continuo a cumprir algumas tarefas, umas mais nobres outras mais mesquinhas. Nem mesmo, em férias, me liberto de quem esperam que eu seja. Corro o risco de não conseguir ser eu próprio e, principalmente, de não perceber que o único objectivo deve ser, em vez do tronco firme e resistente, procurar o ramo instável e quebradiço…
/MCG     

1.8.10

Os meus hypomnemata…





Ontem, referi-me aos termos askesis e hypomnemata sem lhes explicar o sentido. Hoje, passada a neblina matinal, aproveito para elucidar que a askesis é um velho termo para designar o adestramento de si por si mesmo. Em regra, este procedimento, na convicção de Epicteto, exige que nos submetamos a três tarefas diárias: meditação, escrita e exercício físico.

Quanto aos hypomnemata, estes são uma memória material das coisas, lidas, ouvidas ou pensadas, e podem servir a via da ascese. Sem qualquer tipo de pretensão, quero crer que estes meus “posts” são, afinal, os hypomnemata dos antigos, se eu persistir na askesis de mim mesmo.

Tudo isto pode parecer inútil se a desorientação se tiver apoderado de nós. Todavia, se fixarmos o olhar, o cavalo sabe qual é o caminho…

31.7.10

Com sol, omnes cogitationes…

Com sol tudo é diferente, bem sei que há quem prefira a noite, com ou sem luz artifical. No meu caso, a simples ideia de caminhar no convés de pedra só se coloca sob a intensa luz natural. E o rendilhado da pedra sob os meus pés desperta-me para os tempos em que o oceano assolou as montanhas e a força das ondas as vergou. Há quem pense que eu estou de férias, mas não.
Aqui vejo e ouço o modo como o diverso se submete à lei do mais forte. Aqui, descubro que nem sempre é o pobre quem passa mais fome. Aqui, descubro palavras que verdadeiramente me interessam: “askesis”; “hypomnemata”… Aqui, procuro  ir além do «in memoriam non ingenium»…

30.7.10

Sem sol…

Cheguei sem sol e, assim, continua. A praia fica a 500 metros do parque de campismo. O caminho é bom, apesar de obrigar a algum esforço no regresso (isto para quem anda a pé!) A areia branca e fina abriga-se entre falésias de ardósia. Tudo parece acolhedor, mas, hoje, falta o SOL.