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3.6.15

Tempo mal gasto

Só nascemos uma vez! Só morremos uma vez! Há, no entanto, eleitos que renascem e outros que ressuscitam. Não os invejo... a vida tal como está já é suficientemente dura para querer voltar atrás ou para ansiar por qualquer tipo de retorno, e muito menos eterno...
Daria, todavia, uma parte do meu tempo a quem me libertasse das rotinas para que sou convocado e que, na verdade, não acrescentam nada ao livro da vida ou, melhor, só confirmam que a vida mais não é do que uma prisão, cujas chaves o carcereiro usa ao seu belo-prazer.
Ainda hoje tive oportunidade de, a propósito da oficina do poeta, explicar que a condição humana está, desde sempre, determinada pelos mecanismos da repetição e da variação. Chegado aos exemplos, apercebo-me que, do ponto de vista da retórica, a repetição supera claramente a variação, pois se distribui pelos níveis fónico, sintático, semântico e pragmático, ao contrário da variação que se confina ao nível sintático ... da linguagem.

(...)  De momento, tudo me diz que noventa por cento dos enunciados que tive de suportar ao longo do dia já os ouvira ritualmente, ao longo dos últimos 41 anos...

3.8.12

Ao mudar a cor


Não aprendo / esqueço. Sombra de mim próprio / rasgo o passado.// Ao mudar a cor /o pavão imagina-se loureiro./

31.5.12

O outro lado…

A 31 de Maio, a natureza segue o seu caminho, avessa à seca. Eu deixo-me ficar em frente e procuro as abelhas e as borboletas. Elas mostram-se e ignoram-me.

À margem, resigno-me a ouvir chilreados indistintos porque nunca parei o tempo suficiente para os nomear…, embora ainda veja as oliveiras de outrora, em horas de fome…

23.5.12

Proust e a redenção

«On cherche à se dépayser en lisant. (…) La grandeur de l’art véritable (…) c’était de retrouver, de ressaisir, de nous faire connaître cette réalité loin de laquelle nous vivons, de laquelle nous nous écartons de plus en plus au fur et à mesure que prend plus d’épaisseur et dímperméabilité la connaissance conventionelle que nous lui substituons, cette réalité que nous risquerions fort de mourir sans avoir connue, et qui est tout simplement notre vie.» Marcel Proust, Le Temps Retrouvé

Na Biblioteca Central da ESCamões, gostei de ouvir Pedro Tamen dissertar sobre a obra de Proust. Fê-lo com simplicidade e delicadeza, inventariando temas e falando das dificuldades que a obra coloca ao leitor (e ao tradutor).

Houve, no entanto, um detalhe que me fez regressar a um exercício anterior e interior: a arte redentora, a arte que nos redime do tempo. Confesso que, para mim, a arte ( a literatura – a leitura e a escrita) é um pouco mais proustiana: ela permite-me suspender o tempo, metamorfosear-me; dissociar-me das convenções. Como a cobra, deitar fora a pele!

E é nessa metamorfose que ao matar (devorar) cronos, reencontro a realidade de que sou feito – a vida – e morro satisfeito.

PS: Claro que ninguém tem culpa de que, ao fim de tantos anos, eu continue a rejeitar a redenção. E já agora acrescento que, para mim, desde os anos 70, o Marcel, mesmo se amortalhado no seu leito de escrita, é um mestre da vida. O Pedro Tamen que me perdoe!

17.4.12

A ser verdade…

A ser verdade, de nada serve a frustração de ver tantos jovens de 15 e 16 anos a desperdiçarem tempo nas salas de aulas. Isto para não falar dos “falsos” adultos!

Na obra Sobre o Tempo (14, Zahar) Norbert Elias é taxativo:«ao crescer (…) toda a criança vai-se familiarizando com o “tempo” como símbolo de uma instituição social cujo caráter coercitivo ela experimenta desde cedo. Se, no decorrer de seus primeiros dez anos de vida, ela não aprender a desenvolver um sistema de autodisciplina conforme a essa instituição, se não aprender a se portar e a modelar a sua sensibilidade em função do tempo, ser-lhe-á muito difícil, se não impossível, desempenhar um papel de um adulto no seio dessa sociedade.»

14.4.12

Estranha forma de acordar

Esta madrugada a chuva era tão intensa que a minha mente, vá lá saber-se porquê, me martelava os versos de Camões: «Chove nela graça tanta / que dá graça à fermosura»

E ia pensando se aquela chuva ainda poderia  ressarcir esta terra dos danos que todos os dias lhe acrescentamos, enquanto Platão me acenava que aquele precipitado me poderia servir para explicar a importância dos seus arquétipos.

Ao levantar-me,  não posso deixar de pensar nesta estranha forma de acordar em que a teoria platónica entrou pela garganta de Camões dando forma a uma explicação nada ortodoxa e, de certa forma, anacrónica.

Mas que a chuva caía, caía! E sem tropeçar!

8.4.12

Mais um dia…


Mais um dia sem ressurreição! A Páscoa já não é feliz, se alguma vez o foi, neste tempo de ruínas insepultas…
Amanhã, os jogos florais regressam: palavras vãs evocarão palavras perdidas; cores várias disfarçarão fendas insuportáveis…e as flores de maio desabrocharão avessas ao compadrio…

4.4.12

O dragão

Do rosto da 1ª edição das obras completas de Gil Vicente (1562) para o rosto da Selecta Literária (1959), organizada por Júlio Martins e Jaime da Mota – Ensino Liceal /2º Ciclo / volume II / 4º e 5º anos _ o dragão, rosto do Livro dos Seres Imaginários de José Luis Borges, persegue- me…

Aos 15 anos, um aluno do ensino liceal conhecia muito mais autores portugueses que, hoje, um mestre de Bolonha! E não faltavam autores do século XX: Eugénio de Castro, Camilo Pessanha, D. João da Câmara, Augusto Gil, António Sardinha, Júlio Dantas, Teixeira de Pascoaes, Florbela Espanca, A. Lopes Vieira, Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, José Régio, Miguel Torga, Sebastião da Gama.


De qualquer modo, parece que com a passagem do tempo tudo se simplifica: Já em 1959, alguém se tinha esquecido da Esfera Armilar e da Cruz de Cristo.
Por outro lado, parece que, no século XVI,  o dragão era emblema imperial, seguindo a lição oriental e não a ocidental…

E hoje?

25.3.12

As cores do tempo…




A maior dificuldade do filósofo é definir o tempo. As palavras perdem o sentido, cristalizam e o tempo flui, avesso ao discurso verbal.
No entanto, por instantes, o tempo deixa-se ficar na cor do telha, da madeira, do ferro, da pedra, da ideia republicana, do olhar embevecido – em árvores outonais do príncipe real.

20.2.12

São mil os passos perdidos…


«Al fin y al cabo, al recordarse, no hay persona que no se encuentre consigo mesma.» Jorge Luis Borges, El Otro, El Libro de Arena.
No que me diz respeito, o princípio não se aplica, pois, por mais que me esforce, não consigo lembrar-me das onze mil virgens mártires, às mãos dos Hunos, nem vejo por que motivo alguém se lembrou de as enterrar na igreja do franciscano Santo António, em Alcácer do Sal.

E quanto a Átila (385-453), rei dos Hunos, também já esqueci a sua crueldade que, ainda antes de ter nascido, teria degolado Úrsula, na cidade de Colónia, no dia 21 de outubro de 383. O mais interessante é que nesta cidade, uma igreja guarda o túmulo de Santa Úrsula e das suas onze companheiras.

Sempre que recordo o passado, acabo por me desencontrar e, simultaneamente, perceber que a escrita é um lugar de perdição. Neste caso, são mil os passos perdidos… ou talvez, uma dúzia de virgens perdidas!

2.1.12

Um dia à espera…

Um dia à espera… campos desertos e nas ruas, poucos transeuntes. Só nas superfícies comerciais, na zona da restauração, o movimento de gentes se faz notar. As lojas irremediavelmente fechadas…

Para além da espera, ruínas – prédios que implodem no interior da cidade ; o castelo imponente, encerrado.

Nas Urgências, o povo manso; o resto são regras de manchester (Quem as verifica?) No SO, 2 B, a humanidade presa por fios, ligada à máquina – sinal sebástico do milagre da ciência! A voz ininteligível, a certeza do nome, a VIDA!

Na espera, o chilrear dos pássaros e, neste longo intervalo, algumas ideias. Afinal, o Menino Jesus de Alberto Caeiro é uma adaptação do Cristo lusitano de Guerra Junqueiro. - Quem o diz? - Unamuno, sem ainda ter conhecimento da existência de Pessoa / Alberto Caeiro. Para além disso, a certeza de que não vale a pena construir sobre ruínas!

8.10.11

Uma tarde exótica…

Depois da minha presença se ter transformado em poleiro nos jardins do palácio Galveias, percebi que o fim de tarde ia ser diferente. Uma hora mais tarde, a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Pedro Neves - após ter magnificamente acolhido Instante, de Carlos Caires, e Tamila Kharambura, vencedora da 1ª edição do Festival Jovens Músicos - executou, de forma exímia, Vathek, de Luís Freitas Branco (1890-1955).

Contida a emoção, acentua-se a consciência de que, afinal, nada sabia sobre a origem deste poema sinfónico, Vathek (1913), inspirado na obra homónima ( escrita em1782) de William Beckford. Um romance gótico de um viajante profundamente ligado a Sintra.

Falta tempo para tanto caminho! Talvez, os pombos…

6.9.11

Tempo de relego…

Este ano, o relego foi tempo de agitação causada pela mediocridade  de quem nos desgoverna. Pagamos, a cada minuto, o desregramento dos salteadores que se apropriaram dos capitais depositados nos bancos e os hipotecaram definitivamente.

Para que os salteadores continuem a beneficiar do relego, isto é, do privilégio de vender as ações compradas antes que a falência seja decretada, o zé povinho é esbulhado que nem no tempo das invasões francesas.

Para aliviar a vilania, confesso que este ano o meu tempo de relego foi, em grande parte, consumido a ler Aquilino Ribeiro:

«Era a hora em que, de sol a dobar para o ocaso, aparece nos horizontes um fuminho ligeiro, baço, movediço e surdo, que é o avental da noite. Por detrás vem ela, para camponeses e bichos realidade mais táctil que a asa de um morcego. Em horas de crise a sua aproximação torna-se tão crucial que não há esperanças, nem consolações trocadas que lhe balsamizem o negror. Pesadume às toneladas.»  Aquilino Ribeiro, Valeroso Milagre, in Estrada de Santiago.

2.9.11

Setembro

Olho e não entendo. O Outono ainda parece longe, mas as chuvas de Setembro chegaram para amadurar o figo e a uva, reduzindo a colheita, apesar de haver quem defenda que a água-ardente e o vinho serão mais encorpados. De qualquer modo, que interessa a qualidade!

E é esta falta de entendimento que incomoda: não querer saber que o Outono quando chega traz prejuízo, mas, também, pode ser um tempo de qualidade.

Sem pressa e sem egoísmo, é possível reavaliar as situações e encontrar novas soluções…

Entretanto, não compreendo para que serve um Governo que ceifa e não semeia!

Quando o terreno é pedregoso e seco, há que aproveitar as chuvas de Setembro e lançar as primeiras sementes à terra para que, pelo menos, algumas possam germinar.

Ontem e hoje, choveu… mas só vi e ouvi reis magos…

/MCG

21.8.11

Para lá da terra…

«Na carruagem que vinha do Porto, havia muitas caras lusitanas. Tiram-se à vista, não porque tenham carácter como os ingleses ou alemães, mas precisamente porque não têm carácter nenhum. São todas diferentes. Após tantos anos de tombos, de guerras, de sangrias, a raça ainda não escumou numa fisionomia própria.» Aquilino Ribeiro, Um Escritor Confessa-seLances da Minha Vida, pág.363.

A falta de carácter explica muita da subserviência que grassa entre governantes e comentadores da res publica. Por seu lado, o povo parece um rebanho alheado do caminho e do pastor! A Alemanha põe e dispõe da terra lusitana, e Portugal aplaude, convencido de que merece expiar por não ter resistido à globalização. Só falta a flagelação na praça pública!

Mas nada disto é possível sem o colaboracionismo, para quem a terra nada vale. Aos colaboracionistas só interessa o capital, e este não tem nacionalidade nem religião. As grandes empresas portuguesas que, em grande parte, tosquiam o contribuinte e o consumidor, têm as suas sedes em países com menor carga fiscal ou em paraísos fiscais. Porquê?

A Alemanha e a França não estão sozinhas! BCP, BPI, BES, BANIF, BIC, Banco Internacional do Funchal, PT, GALP, SONAE…, EDP, CIMPOR, Jerónimo Martins, BRISA, Mota-ENGIL, PORTUCEL, SEMAPA, ZON (e quantas mais?) põem o rebanho a render e ameaçam abatê-lo!

Considerando a lição de Aquilino Ribeiro e daqueles que consumaram o derrube da monarquia, e cujo carácter se media pela capacidade de enfrentar a rugosidade do terreno, o principal inimigo deve ser procurado dentro e não fora de Portugal. E o primeiro passo é não colaborar com empresas que não assumem os seus deveres fiscais, em nome de uma falsa internacionalização – os únicos beneficiados são sempre os accionistas…

Em Um escritor Confessa-se, para além da terra, há o terreno… e a luta constante contra a subserviência, fundada na tradição, na religião ou no despotismo político castrador…seja monárquico ou republicano.

Há autores que merecem ser lidos não só pela qualidade linguística e literária das suas obras, mas, sobretudo, pela sua exemplaridade, o que talvez explique a nossa falta de carácter e a facilidade com que somos desrespeitados.

23.4.11

Ovos de Páscoa


Trouxe-os de longe /
em sonhos de ouro /
berlindes de infância / 
arautos de ninfas…

E agora vão fora /
ovos de Páscoa…
      

9.4.11

Um relógio?

Carvalhal_MoinhosPena 053 Carvalhal_MoinhosPena 042
Carvalhal_MoinhosPena 036

Por esquecimento ou deliberadamente, o relógio oferece-se ao primeiro apressado que por ali passe.

Como passei sem pressa, deixei-o ficar! Talvez o dono o venha buscar… ou já não tenha mais TEMPO!

Définitivement, j’ai retrouvé le temps de mon pays!