13.10.11

Acrescentar…

Há quem defenda que a arte não se explica! Mas se assim fosse como é que saberíamos que se trata de arte? Como é que saberíamos que estamos perante um artista?

Na minha modesta opinião, a explicação da arte passa pela capacidade de ajudar a obra a atingir um público que a legitime não pelo seu custo, mas, sim, pelo que lhe acrescenta – pelo que acrescenta ao cosmos.

É esse acréscimo que me interessa e que eu talvez possa explicar se me souber colocar diante do livro, do quadro, da escultura, da canção, do filme…

E por isso mais do que incluir em qualquer programa o conhecimento da arte, o essencial é  aprender a colocar-se perante o outro, sobretudo, perante aquele que persiste em não deixar o mundo sem lhe ter acrescentado beleza, bondade, verdade… novidade.

11.10.11

Preconceito ou desfaçatez?

O desassossego cresce sempre que a tomada de decisão se avizinha.

Na maioria das situações, o resultado é calculado. E nem a infinidade de itens esconde a manipulação.

É como se o valor das parcelas fosse fingido para que a soma final mais não seja que a confirmação do preconceito.

Resultados há, no entanto, que nem o preconceito consegue justificar tal é a desfaçatez!

8.10.11

Uma tarde exótica…

Depois da minha presença se ter transformado em poleiro nos jardins do palácio Galveias, percebi que o fim de tarde ia ser diferente. Uma hora mais tarde, a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Pedro Neves - após ter magnificamente acolhido Instante, de Carlos Caires, e Tamila Kharambura, vencedora da 1ª edição do Festival Jovens Músicos - executou, de forma exímia, Vathek, de Luís Freitas Branco (1890-1955).

Contida a emoção, acentua-se a consciência de que, afinal, nada sabia sobre a origem deste poema sinfónico, Vathek (1913), inspirado na obra homónima ( escrita em1782) de William Beckford. Um romance gótico de um viajante profundamente ligado a Sintra.

Falta tempo para tanto caminho! Talvez, os pombos…

5.10.11

Feriados e mais feriados

A República não só não soube tirar-nos da decadência como nos atirou para os braços de um ditador autista que, por seu turno, gerou um regime, pretensamente libertador, mas que nos ostraciza definitivamente.
Na situação atual, um feriado a meio da semana só pode significar que continuamos a não perceber que necessitamos de mudar de vida. E vêm aí mais feriados e dias santos – 1 de Novembro; 1 de Dezembro; 8 de Dezembro; 25 de Dezembro… E não sei quantos feriados municipais!
O Senhor Presidente da República, se não quer ser lembrado como coveiro da Pátria, bem poderia começar por exigir ao Parlamento que elimine a maioria dos feriados e dias santos.

4.10.11

A prova dos nove…

A escola é tanto mais pujante quanto maior é a participação da comunidade educativa na construção e no incremento do respectivo projecto educativo.

Face à decisão da tutela de proibir a entrega do prémio de mérito ao melhor aluno de cada escola, é chegada a hora de cada comunidade educativa assumir a responsabilidade de não defraudar todos aqueles alunos que se aplicaram ao longo do ano lectivo, sabendo, de antemão, que só um ou dois seriam premiados.

30.9.11

Inutilia truncat…



Se os discursos são tão planos que de nada serve tentar podá-los, pelo contrário, no tecido (in) produtivo português há um ilimitado campo de ação.

Em Portugal, há milhões de portugueses que beneficiam de regalias escondidas, e que se avolumaram nos últimos 30 anos na sequência de  desastrosas cumplicidades entre partidos, gestores e sindicatos. Empresas com dívidas insuportáveis continuam a alimentar as suas clientelas como se nada estivesse a acontecer e, despudoradamente, os seus representantes falam diariamente da necessidade de todos partilharmos esse despesismo.

Esta ideia de partilha mais não é que uma forma de punir quem trabalha honestamente e quem cumpre todas as obrigações que o Estado lhe impõe.

O direito à indignação precisa de ser revisto. Os indignados deveriam iniciar uma luta sem quartel contra prémios, horas extraordinárias, cartões de crédito pagos pelas entidades patronais, veículos oficiais ou de empresa, viagens gratuitas na tap, cp, carris, metro, cantinas corporativas, casões, sacos azuis, amarelos ou vermelhos, orçamentos privativos em escolas, universidades, hospitais, fundações sem capitais próprios, privilégios das múltiplas igrejas, misericórdias, sem esquecer os corvos que nos deixam as tripas ao sol.

28.9.11

As flores do Poeta…

Um poeta tradutor, se por um lado corre o risco de matar a criação, por outro arrisca tudo ao ocupar o lugar do feiticeiro que antecipa as chuvas que fazem a glória do rei.

Este tradutor é modesto, pois não se pensa singular, e, ao mesmo tempo, não abdica de dar voz (asas) a uma realidade de pés descalços, seca, sem hino e sem bandeira, mas que, no antigamente, transformava cada semente em flor. Tudo como se o presente tivesse perdido o rumo ao deixar-se formatar por estranhos lugares-comuns.

E quem poderá traduzir essa vontade de regresso ao tempo solidário?

Na verdade, só a semente / oferece flores, mas, para que isso aconteça, o chão (o poeta) terá de ser permeável às chuvas.

Ser ponte, voltar atrás, parece ser o caminho escolhido pelo “palavrador” Mia Couto, em Tradutor de Chuvas,  pois a verdade reside num tempo definitivamente perdido, a não ser que as chuvas façam germinar as sementes…

O papel / antes do poema, / é um chão depois da chuva. // O idioma do grão / lavra a caligrafia do pão.//

Em conclusão, apesar de nem todos os poemas serem flores, fica-nos a lição da semente…, embora haja quem nela tenha visto uma prova de machismo, que, creio, precipitado!