Nem na Caverna de Platão se poderia viver descansado. Mesmo que os prisioneiros se mantivessem voluntariamente agrilhoados à sua miserável realidade, eles não escapariam ao olhar escarninho…
Aí estão os muros para nos lembrarem quão risíveis somos!
Nem na Caverna de Platão se poderia viver descansado. Mesmo que os prisioneiros se mantivessem voluntariamente agrilhoados à sua miserável realidade, eles não escapariam ao olhar escarninho…
Aí estão os muros para nos lembrarem quão risíveis somos!
«Que me importa /o perfume das rosas /os lirismos da vida /se meus irmãos têm fome?»Agostinho Neto, A Renúncia Impossível
Ao longo dos anos, fui construindo enunciados cujo fim era sintetizar conhecimento e contribuir para a formação de uma sociedade mais justa e mais livre. Entretanto, céptico, fui assistindo ao crescimento da liberdade que foi pondo termo aos vários muros instalados um pouco por todos os continentes. E essa desconfiança tinha razão de ser pois, nas últimas décadas, essa liberdade em vez de trazer mais justiça trouxe mais desigualdade.
Cito Agostinho Neto porque também ele sentiu a confusão bíblica que se instalara entre os homens. E por caso, hoje, vi parte de um filme sobre François Mitterrand “Um Passeio pela História”, e dei comigo a pensar que aquele homem, que governou a França entre 1981 e 1995, percebeu completamente os perigos que a Europa corria, pois, em vez dos princípios, o mundo passara a ser dirigido pelo capital.
«Não sãos os coveiros que nos matam. Simplesmente estão lá quando morremos.» Mafalda Ivo Cruz, Mil Folhas, 26 de Janeiro de 2001, PÚBLICO
O registo fotográfico não deixa de impressionar pelo fulgor do volume e da cor da pedra. Porém, passado o deslumbramento, fica por perceber por que motivo, ao longo dos séculos, se insistiu no transporte da pedra para um lugar onde a areia cedo começou a escassear. A exuberância dos edifícios esconde a míngua do homem comum e a vaidade dos governantes.
E passando do coletivo ao individual, nada difere: o egoísmo (ou a cegueira?) de uns leva-nos, de súbita morte, à cova. Passada a surpresa, só o coveiro se empenha momentaneamente em esconder-nos dos vivos…
«O etnólogo em exercício é o que se encontra em qualquer parte e que descreve o que observa ou o que ouve nesse mesmo momento.» Marc Augé, Não-Lugares
O fotógrafo é, assim, um etnólogo involuntário. Captura, num momento, linhas de tempo distintas, formas circulares, verticais e horizontais. Captura o grupo e a individualidade, a luz e a sombra…
… e deixa o Infante a enxergar o lado errado da missão, ao contrário do ciclista que segue confiante, mesmo que, amanhã, caia no desemprego.
Mas esse detalhe pouco importa ao etnólogo!
/MCG
Cada vez que morre um comunicador, há logo quem afiance que a sua voz ficará para sempre. Não valeria a pena exemplificar se, de facto, isso fosse verdade. Por exemplo, quantos reconhecem hoje a voz de Vitorino Nemésio?
Embora existam registos audiovisuais dessa voz, ninguém sente necessidade de os divulgar. Porquê? Provavelmente pela natureza da mensagem! Do fascínio de outrora pouco resta, talvez porque a eloquência nos impeça de ver a obra.
Todavia, de Cristo ou de Maomé nem rosto nem voz, mas isso não impede que a mensagem continue a incendiar a terra.
Só um narcisista se atreve a enunciar a elocução “Para sempre!”
/MCG