3.5.09

Estaremos nós à altura?

Estaremos nós à altura dos escritores que nos últimos 100 anos pisaram, como alunos ou professores, o chão do Liceu Camões / Escola Secundária de Camões?

Embora a pergunta me tenha sido colocada a propósito da divulgação da obra do Mário Dionísio (Encontro ao Fim da Tarde de 29 de Maio), devo responder que dificilmente o conseguiremos.

O alheamento e o mutismo dos professores não são de espantar. O ensino da literatura, de forma sistemática, parou em Fernando Pessoa, deixando a respectiva geração e as seguintes na sombra. Faltam-nos um António José Saraiva e um Óscar Lopes! O Eduardo Lourenço, apesar de arguto ensaísta, não dá conta do recado. E é estrangeirado!

Nos últimos anos, o Ministério da Educação ao abrir mão do Ensino Superior, passou, em teoria, a ocupar-se da Língua…, descurando o ensino da literatura. Os Ministérios da Educação e da Ciência … não compreendem a Literatura como uma importante mais-valia, para não falar da vertente identitária…

Por isso, os alunos não têm grande motivação para a literatura nacional. O sentimento de pertença não lhes diz nada. Os adjectivos "nacional", "europeia", "lusófona" não passam de ornamentos sem conteúdo.

Finalmente, o fosso entre o ensino dito superior e o secundário, em termos comunicacionais, é cada vez maior. Mesmo que os nossos convidados se esforcem muito, só os grandes comunicadores conseguem prender audiências tão deserdadas... Deste modo, os nossos objectivos estão sempre em risco!

Se pensarmos que o distinto Mário Dionísio, quando professor universitário se viu confinado a uma monótona cadeira de Técnicas de Expressão do Português, talvez encontre a resposta para o ocaso das Faculdades de Letras deste país... Estas Faculdades foram ocupadas por interesses bem distintos daqueles para que foram criadas.

A resposta que eu posso dar não é nada optimista, apesar de eu acreditar que se conseguirmos refundar a leitura literária acabaremos por trazer para o redil umas tantas ovelhas tresmalhadas...

Recordemos que homens como José Rodrigues Miguéis ou Jorge de Sena partiram para não voltar. Dificilmente, encontrariam emprego nas nossas Faculdades de Letras!

Apesar disso, há que insistir. Ser directivos... (pedagogicamente, reaccionários!)  

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