6.5.09

A máquina fotográfica…

A máquina fotográfica capta melhor a paisagem do que eu quando tento compreender o que pode estar a ocorrer na cabeça dos meus interlocutores. Oiço-lhes as palavras e, por instantes, fico suspenso, à procura de um sentido. Não sei a que plano devo dar mais atenção! 
Da cegonha desço à linha de água barrenta, passo sob o comboio, olho o sapal em frente atravessado por uma via rápida e apetece-me continuar, na direcção do horizonte, subindo lentamente a linha inclinada que depois do verde me pode conduzir à cinza. Entretanto, o tom de voz dos meus interlocutores cresce, talvez à espere que eu regresse às palavras iradas tão convenientes quando o leite azeda. Mas não! Mesmo que eu quisesse dizer-lhes o que penso, a máquina fotográfica não me deixa – agora mesmo me perguntou se a cegonha enviuvou ou se o comboio já chegou à estação ou se não seria preferível hospedar-me na casa da encosta e ficar por lá a olhar para cá… A perspectiva seria outra… e eu certamente deixaria de pensar no que estaria ocorrer na cabeça dos meus interlocutores…
/MCG

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