10.5.09

Para quem quiser ir mais longe...

(Para o Alberto Afonso: a escrita há-de ser o que nela acontece!)
Tanta água, tanta terra! A ponte devolve-me à terra, o olhar descansa na torrente... o casario parece deserto e eu medito uma linha de árvores equidistantes...
Esta terra e esta água despertam em mim desesperos de courelas ressequidas. O Sol abrasava e a sombra faltava. A faina era penosa e suada, a fuga inevitável.
No início dos anos 60, o seminário abre a sombra, torna-se refrigério e escancara-me as fugazes Portas do Sol... E o Tejo, a espaços, alaga as margens e cerca a Ribeira, deixando-me cada vez mais céptico face à justiça divina. Atravessado o rio, o olhar fixou-se por instantes numa voluptuosa laranjeira, o que definitivamente me condenou a uma interminável indagação e a um inevitável cepticismo.
Cansado, conheço, por vezes, a inteligência das coisas e dos homens e nesses breves momentos mergulho na sombra e por ali fico a contemplar o mistério da água... e assim fujo da matreirice e da brejeirice que desertifica a alma humana...
E para quem quiser ir mais longe, peço que desista porque, como Bernardim Ribeiro, também eu quero crer que a escrita há-de ser o que nela acontece...

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