Cheguei ao fim da Correspondência (12.11.1971). À data, «as portas entreabriam-se (por quanto tempo?) e toda a gente se lançou a publicar cada vez mais ousadamente. A política e o sexo vão de vento em popa.» Carta 159 (José Saramago).
Ao mesmo tempo que a Censura parecia desmobilizar, Saramago via-se desfeiteado pelos novos patrões da Editorial Estúdios COR que decidiram admitir um novo director literário – Natália Correia – sem lhe dar qualquer satisfação. E por isso Saramago « cansado de carambolar entre a editora e os autores… (…) e do franciscanismo tolo e ingénuo que tem sido o meu» (…) demitiu-se.
Por seu lado, Miguéis, à beira dos 70 anos, adoentado e cada vez mais esquecido, continua à procura de novos caminhos literários e editoriais, sem deixar de zurzir nos literatos portugueses em que inclui Mário Dionísio: «Segundo o pobre do Mário Dionísio – tão mau pintor como mau poeta – para quem também deixei de existir – o rótulo importa mais que o vinho da garrafa…»
Miguéis não deixa, no entanto, de separar o trigo do joio, embora, curiosamente, nestes 12 anos de correspondência não haja uma única referência a Fernando Namora, ao declarar ao amigo Saramago:
« Não creio que nenhum outro cronista nosso escreva hoje de maneira tão toante, directa e moderna – e tão bem! - sobre os pequenos e grandes quotidianos da nossa vida: humanidade, ironia, e um pessimismo sorridente, isento de amargura.» Carta 160.
Miguéis, ao comentar Deste Mundo e do Outro, antevia já o lugar primeiro a que Saramago se alçaria, ofuscando todos aqueles que, de algum modo, se habituaram a vê-lo como o servo em vez do senhor.
PS: Um Bom Ano de 2011 para todos! e, em particular, para o discreto e fugidiço José Albino Pereira.
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