26.12.10

Parece um sonho…

Parece um sonho, mas é verdade! Saramago, durante anos “serviu” paciente e zelosamente o escritor “americano”, como seu »director literário» na Editorial Estúdios COR. A correspondência entre ambos confirma-me a visão do escritor exigente e, por vezes, exasperante que foi José Rodrigues Miguéis. Tinha a ideia que este seria tão perfeccionista e ávido do vil metal como o fora Eça de Queirós. Bem sei que ambos precisavam dos proventos da escrita para poderem sobreviver em climas e culturas bem diferentes!

Apesar da hipocondria e, por vezes, da incompreensão de Miguéis, José Saramago procura sempre servir o ilustre escritor, quase sem um queixume, revelando uma crescente simpatia que progressivamente se transforma em amizade, no sentido nobre, diria mesmo, platónico do termo. Pressinto que, para Saramago, o cultivo dessa relação foi fundamental para a sua maturação como escritor que, paradoxalmente, o ajuda a libertar-se do jugo dos editores e até do capricho da crítica e, sobretudo, do mau gosto dos leitores…

Das 166 cartas que compõem esta obra, organizada e anotada por José Albino Pereira, só li, ainda, 43…, mas a leitura é apaixonante, para quem sempre considerou Miguéis como um dos maiores escritores da lusofonia e, sobretudo, porque nos dá um retrato de Saramago, como um homem humilde, amigo de seu amigo, crítico parcimonioso e senhor de um saber fazer admirável…

(Quanto a José Albino Pereira tem aqui um trabalho que honra o zelo de José Saramago. Espero que se mantenha disponível para nos falar desta relação privilegiada entre Miguéis e o Nobel da Literatura. E, sobretudo, que não nos fuja, de vez, para os campos do Ribatejo!)  

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