23.9.11

No lugar do céu…

O que eu vi,/ à nascença, foi o céu.” Mia Couto, Tradutor de chuvas, 2011

Só um poeta poderia afirmar tal coisa. Eu, que nunca fui poeta, não me lembro de quando é que vi o céu pela primeira vez, embora desconfie que, quando atentei na palavra “céu”, deva ter pensado que ela seria demasiado pequena para o que escondia. No meu frágil entendimento, “firmamento” representava melhor a abóboda que me cobria…

Por outro lado, à nascença, mais do que sujeito terei sido objecto. Fui  visto, e não sei com que olhos! Pressinto que o que de mim era esperado não seria muito diferente do destino dos homens daquele dia…

E ainda agora me parece que o céu é demasiado estreito e, no entanto, sinto que o firmamento substituiu melhor o ventre que durante algum tempo me acolheu.

Por isso, sempre que posso, olho o firmamento na esperança de adiar as contas com o céu.  

2 comentários:

  1. O firmamento... o céu...; antes olhar o Olimpo esquecido de Zeus.

    ResponderEliminar
  2. Se por Olimpo se reporta à Grécia, concedo. Quanto a Zeus, nada espero, pois Kronos sempre acaba por devorar os seus filhos.

    ResponderEliminar