24.9.11

Tempo malbaratado…

I - Para quem estuda na Escola Secundária de Camões, a leitura de Domingo de Lázaro deveria ser obrigatória. Aquilino Ribeiro retrata, de forma sarcástica, a vacuidade das opções ideológicas dos docentes do Liceu  durante o 1º conflito mundial. Por outro lado, mostra com crueza o comportamento indisciplinado de alunos que desprezam o trabalho…Finalmente, descreve o irrealismo e a fatuidade docentes, para além de deixar um olhar impiedoso  sobre a família portuguesa, sobretudo, rural.

II – Acabo de reler, em Estrada de Santiago, a novela A Grande Dona que introduz uma reflexão sobre a incapacidade do homem aceitar a sua condição, seja ela de pobreza ou de efemeridade. O filho do moleiro do Gorgulhão, afilhado da Morte, vai ao ponto de litigar com Ela para adiar o seu destino… À terceira refrega, o afilhado afunda-se irremediavelmente no pélago sem fundo… ( o outro lado do céu).

A demanda do padrinho rico é uma narrativa cheia de surpresas no que revela da capacidade argumentativa e indagadora de Aquilino. Nem Deus nem o Diabo servem como padrinhos! Os argumentos seriam mais tarde (?) partilhados por Miguel Torga. Só a Grande Dona!: «Alta, delgada como círio, de órbitas cavas e dentes alvíssimos, a cabeça toda uma mancha de calcário, a intrusa vestia um capindó da corte triste do luar.»

Os textos de Aquilino são verdadeiras lições de história, geografia, política, antropologia, religião, mitologia e costumes… mas o que me seduz é o vastíssimo conhecimento da língua, testemunho de um tempo que se perde a cada dia que passa.

Com a morte da língua portuguesa, morremos todos!

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