Foi com Montaigne (1533-1592) que a literatura se assumiu como literatura de ideias – ESSAIS. Para o ensaísta, o texto, sem descartar o tom panfletário, expõe uma epifania, uma visão súbita do mundo sem passar pela ficção imaginada.
Como se sabe, a fortuna de Montaigne resultou da capacidade de fundir elementos oriundos de géneros diversos nos ESSAIS, como se eles mais não fossem que a matéria de que o ensaísta era feito: «Je suis moi-même la matière de mon livre.»
Ora, parece que José Saramago, à semelhança de Montaigne, ao escrever certas obras – O Manual de Pintura e de Caligrafia / Ensaio sobre a Cegueira / Ensaio sobre a Lucidez – visava não só dar expressão a essa «visão súbita do mundo», em tom irrisório, mas passando pela «ficção imaginada», passe a redundância.
E foi essa opção que permitiu que Saramago fugisse à explicação sistemática, ocultando a ideologia, mas lançando sucessivos foguetes no coração da noite.
Uma noite sem fim!
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