Há palavras cuja origem se perde nos fumos do tempo. É o caso do termo 'velhaco'. Consta que a forma portuguesa resulta de um empréstimo espanhol que, por sua vez, o terá roubado ao provençal 'bacalar", deixado ficar por algum celta mais matreiro ou, caso contrário, mais ingénuo - bakallakos...
O certo é que esta manhã acordei com o 'velhaco' na ponta da língua. Nas primeiras horas do dia não me saiu do pensamento. De facto, há muito tempo que não oiço chamar 'velhaco' a ninguém, nem encontro tal termo em qualquer obra mais recente.
Perplexo, interroguei-me se conheceria algum velhaco ou alguma velhaca ou alguém capaz de cometer qualquer velhacaria, e a minha língua desarmou-me. Deixou de fazer qualquer movimento e, consequentemente, de se pronunciar sobre o assunto.
Retraído, regressei ao tempo em que havia velhacos a torto e a direito. Um tempo longínquo, rural, apesar de distante da raia espanhola. Nesse tempo, até eu, quando, atormentado por um molho de serralhas para os coelhos, o escondia sob um pedregulho - até eu - ao regressar a casa, era apelidado de velhaco, erva ruim...
Esta incompreensível fixação, logo que a língua se contentou com a evocação do passado, atirando-me para a galeria dos velhacos anónimos, levou-me, ao longo do dia, a contar a dois ou três amigos esta inesperada obsessão... Qualquer deles deve ter ficado a pensar que, definitivamente, estou senil... E se calhar, estou mesmo!
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