11.2.15

É apenas como o falar alto de quem lê...

Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objectividade ao prazer subjectivo da leitura.
                Bernardo Soares

(Escola Secundária de Camões, 11.2.2015, às 17 horas, na Sala do Conselho)


O Clube LER PARA VIVER está de parabéns! 
Levou a cabo mais uma iniciativa de leitura pública, desta vez, tendo como fio condutor o verso de Fernando Pessoa / Alberto Caeiro, PELO TEJO VAI-SE PARA O MUNDO.
Sabemos, no entanto, que Caeiro prefere estar, a partir:
(...)
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Como diria Bernardo Soares, a prosa e o verso só não se anulam porque é deles que se nutre o prazer subjetivo da leitura, o que me leva a pensar que, para os membros do Clube, a verdadeira fruição, mais do que no trabalho coletivo apresentado, está no tempo de preparação do evento: na descoberta do movimento, do gesto, da cor e do som das águas subterrâneas em que os poetas habitam...

Entretanto, "o vermelho anoiteceu", terá sentido Álvaro de Campos. E talvez porque a noite, frequentemente, chega mais cedo, começo a pensar que o Clube LER para VIVER poderá ainda ter mais sucesso se, em vez de partir do Tejo, partir da ESCRITA como suporte de VIDA... mesmo quando a memória falha... 
Mas essa é a Vida de Alice...

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