Os dias se não estão mais compridos tornaram-se-me mais pesados. Talvez devesse ter colocado atrás uma vírgula, mas sinto-me um tanto desvirgulado, apesar de refrear tudo o que penso, isto é, de virgular todas as pausas a que me forço para não cair no acinte...
Cair no acinte já não cai bem na minha idade, dizer que a novidade do dia tem barbas não incomoda, pareceria que me estaria a colocar em bicos de pés...
Ainda na posse de um manual de etiqueta, deixo-me ficar sentado a ver em que param as modas que não divergem muito das de outras eras que concluíram que ser cortês sempre era melhor do que carniceiro... tudo em benefício de damas agravadas e crianças desamparadas...
Verifico agora que de tanto cair já sofro de cacofonia e que a minha obrigação seria voltar atrás, de modo a não profanar os ouvidos das almas mais sensíveis, mas vejo-me em estilhaços, por não ter percebido à primeira que as almas não têm ouvidos, não têm olhos, não têm nada...
Eu é, que desvirgulado e desalinhado, investi nos dias e só agora percebo que, ao contrário do didata, não posso eliminar a cacofonia e muito menos impedir que os anjos sejam reverentes...
Ainda se eu fosse o senhor das vírgulas!
A partir de hoje, o meu sonho é fechar os olhos numa vírgula à espera que surja a maiúscula que me interpele e me faça cair no acinte...
Imagine o leitor que, enquanto espero, decidia mudar o título para não ofender a vírgula, e começava novo ensaio, ou como se diz há uns tempos, iniciava nova tentativa:
Sentia-me um tanto desvirginado... já estou a ver os rostos carrancudos, Isso é coisa que se escreva... o melhor é mesmo afundar-me no grupo verbal!
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