«Sim, queria trabalhar! Mas aonde?!... Estava cansado de procurar, de pedir, e ninguém lhe arranjava nada, nem mesmo mísero emprego público. Bem se importavam que seu pai tivesse morrido em África, lutando pela Pátria, ou que ele mostrasse os seus papéis de jovem combatente!...
Sim, ele desejava trabalhar! Mas como se não encontrava trabalho?! E nisto tinha razão o pobre moço. Afinal, ele outros jovens da sua idade expiavam consequências duma situação que não haviam criado. Sem preparação prática para a vida, sem responsabilidades na crise, sem haverem partilhado do regabofe, eram lançados num inglório destino. Constituíam essa geração de sacrifício que engrossava a vaga de miséria que rolava pelo mundo, atroando às portas das cidades seu clamor de justiça - famintos de pão e de alegria, chorando, numa raiva sagrada, a desdita da sua inútil mocidade...» Julião Quintinha, Novela Africana, 1933.
Este excerto, deliberadamente descontextualizado, até porque integra o capítulo Como se faz um colonial, surge aqui para provar que a atual situação nada tem de inédito e, sobretudo, que a eventual mudança política só terá sucesso se conseguir acabar com o regabofe e criar condições para que o trabalho não falte a ninguém.
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