24.2.16

Uma narrativa estática ou será pantanosa?

Estou aqui às voltas com um suposto conto, escrito por Fernando Pessoa,  A Estrada do Esquecimento ou, para alguns, A Estrada da Escuridão.
Tomando como válida a hipótese de que no conto tem que ocorrer um acontecimento que transforme a ordem em desordem para gerar uma nova ordem, parece pouco provável que, mergulhados na escuridão ou afundados no esquecimento, possamos testemunhar individual ou multiplamente qualquer ocorrência. 
No primeiro caso, desapossados da visão, no segundo desapossados da memória, deixamos de saber como recuar ou avançar e, portanto, espectros, pairamos como os pingos da chuva. 
Estáticos, talvez, ainda possamos percorrer os atalhos da audição ou do tato, mas por pouco tempo. Recobrando, por instantes, a memória, vislumbro centenas de milhares de soldados nas trincheiras da Flandres que esperam que a morte os liberte da escuridão e do gás pimenta...

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