Abro uma exceção, a propósito da peça (não-aristotélica) Revolução Barata, do GTESC, pois irei partilhar este apontamento no Facebook, rede social tão do agrado da maioria...
Desta vez, não vou elogiar a qualidade de todos os intervenientes, pois o meu encómio do teatro do dizer cruel é perfeitamente inútil face ao crescendo de linguagens que se foram sucedendo, deixando-me a pensar nos tempos da revolução - os da semiótica do texto dramático do esquecido Osório Mateus, gerada nos idos de Maio de 68...
E como o espetáculo desta tarde provocou em mim uma catadupa de ideias contraditórias sobre a abordagem da violência, não apenas doméstica, e também sobre a eficácia da mensagem quando dirigida a públicos mais novos, permitam-me que cite o advogado do projeto dramático:
- Ouves o grito dos mortos?
Também eu atravessei o inferno.
Chegava
a ouvir o contacto das aranhas devorando-se
no fundo. O meu horrível pensamento só a custo
continha o tumulto dos mortos.
Há dias em que o céu e o inferno esperam
e desesperam. Velhos lojistas
olham para si próprios com terror.
Uma coisa desconforme
levanta-se
e deita-se
connosco.
- São outros mortos ainda.
Herberto Helder, Húmus (excerto)
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