1.1.20

O trabalho do leitor

«Um biógrafo não deve nunca elaborar e enfeitar, mas um leitor que faça o seu trabalho consegue formar, com base num punhado de pistas deixadas aqui e ali, um retrato completo do retratado e do que o rodeia. Dos nossos murmúrios, ele extrai uma voz; muitas vezes, mesmo se nada dizemos a esse respeito, vê nitidamente como era esse que estamos a retratar, e, sem uma palavra que o guie, adivinha precisamente o que lhe iria na cabeça. Ora, é mesmo para leitores assim que escrevemos, pelo que um tal leitor facilmente verá que Orlando era uma estranha mescla de estados de espírito…» Virginia Woolf, Orlando, pág. 55, cavalo de ferro, 2019

(Biografia. Retrato. Estado de espírito.)

Ao leitor, mais do que elaborar retratos, cumpre especificar e interpretar a incongruência dos estados de espírito gerados pelo apagamento da Memória, resultante da descontinuidade das vidas e da evolução tecnológica.
Um destes dias, a Orlando, pouco interessa se macho se fêmea, nada necessitará de fazer e, sobretudo, ver-se-á liberto da necessidade de pensar… talvez possa mergulhar na Natureza e por lá ficar até ser submerso.

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