18.8.20

Mestre da inquietação

Uns afrontam-se alheios à condição. Outros, em nome de uma essência bacoca, descontextualizam tudo, como se fossem os únicos portadores da verdade... 
E depois há os apressados, formados na escola do oportunismo, que pensando agradar a gregos e a troianos, se dedicam a criar mamarrachos e a plantá-los um pouco por toda a parte.

E esta semana, sob pretexto de uma homenagem no dia em que Miguel Torga faria 113 anos, na quinta-feira, a junta de freguesia de São Martinho de Anta, lembrou-se de usar a raiz (do negrilho) como base para uma escultura do rosto do escritor transmontano, uma intervenção feita por Óscar Rodrigues. De acordo com o presidente da junta, José Gonçalves, a raiz estava a entrar em podridão, e houve, assim, uma súbita urgência de fazer alguma coisa. 

. Martinho de Anta, 26 de Abril de 1954

Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

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