12.6.15

O estado da memória

Parece indiscutível que um dos indicadores do envelhecimento é a diminuição ou, até, a perda de certas memórias consolidadas, já que das efémeras se aceita a sua caducidade... Esse empobrecimento da memória resultará, por exemplo, de dietas desapropriadas, da qualidade do sono, de medicação agressiva,  ou de um excesso conflituoso e errático de informação ...
A explicação é, talvez, simplista, porque se as quatro causas apontadas estiverem corretas - dieta, sono, medicação, informação -, então o empobrecimento da memória começará a ocorrer muito mais cedo.
Basta olhar para os jovens, que por esta altura do ano se submetem a exames externos e internos, para perceber que boa parte do insucesso deve ser procurado fora da sala de aula. 
E na véspera dos exames, a situação agrava-se ainda mais...

O estilo de vida atual é a principal causa do envelhecimento precoce e, principalmente, do insucesso escolar dos nossos jovens e da inexistência de um modelo de crescimento e de desenvolvimento que transforme a sociedade em que nos vemos como reféns.

11.6.15

O segredo de justiça ou de polichinelo


Lisboa, 11 junho (Lusa) - O Ministério Público abriu um inquérito por violação do segredo de justiça, na sequência da publicação de transcrições de um interrogatório efetuado ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, no âmbito da "Operação Marquês".


Um inquérito para quê?

Afinal, quem é que, em tempo real, teve acesso ao interrogatório? Como é que o ato foi registado? Os presentes durante a inquirição puderam gravar por conta própria? Será que ainda estamos no tempo do registo audio, posteriormente, transcrito para o papel ou para outro suporte digital?

De acordo com a minha experiência castrense, toda a transcrição é manipulável, sobretudo se o continuum  for objeto de qualquer tipo de interferência, como, por exemplo, a tosse, a ira...

Na minha perspetiva, para além do inquirido, que já está detido, o melhor seria deter os restantes, isto é, todos os que estiveram presentes no interrogatório... 

10.6.15

Naquele cuja Lira sonorosa / Será mais afamada que ditosa

«Este receberá, plácido e brando,
No seu regaço os Cantos que molhados
Vêm do naufrágio triste e miserando,
Dos procelosos baxos escapados, 
Das fomes, dos perigos grandes, quando
Será o injusto mando executado
Naquele cuja Lira sonorosa
Será mais afamada que ditosa.»

Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, Canto X, estância 128.

Cito hoje esta estância porque me parece ser a que melhor revela a incompetência dos que nos governam e que não têm qualquer tipo de vergonha ao servirem-se da inteligência, do trabalho e, até, da desgraça de muitos portugueses, condenados a partir ou a viver na indigência... sem esquecer os que se arrastam nas cadeias (ou fora delas) à espera que seja feita justiça.
Tal como no tempo de Camões, Portugal é hoje um país em que os valores são constantemente sacrificados ao interesse e à mesquinhez de uns tantos.
E não me digam que estou a ser pessimista!


9.6.15

Quantas vezes a memória

«Quantas vezes a memória
Para fingir que inda é gente,
Nos conta uma grande história,
Em que ninguém está presente.»
Fernando Pessoa

A memória destes dias é a de um ser verdadeiramente aborrecido que memoriza enormes quantidades de informação para poder realizar umas tantas provas de exame, cujos resultados o deixarão mais perto do insucesso na vida...
Talvez ainda não se possa afirmar que se anda a fingir que se é gente ou que desta história não sobrará ninguém para a contar, mas pela incapacidade de interpretar, pela dificuldade de ordenar e de compor, tudo a leva pensar que o mundo, por estes dias, está virado do avesso. 

Provavelmente, nada disto é verdade, e mais não é do que o cansaço de quem passou 90 minutos numa repartição de finanças às voltas com um anexo G... Para quê contar a história, se ninguém está presente?

8.6.15

O outro lado de José Sócrates

"Agora, o Ministério Público propõe prisão domiciliária com vigilância eletrónica, que continua a ser prisão, só que necessita do meu acordo. Nunca, em consciência, poderia dá-lo", responde José Sócrates, numa carta a que a SIC teve hoje acesso.

Deste modo, José Sócrates poupa nas despesas e promove o turismo nacional. No caso, a grande beneficiada é a cidade de Évora!

Face a esta decisão, para que o contribuinte seja menos sacrificado, espera-se que a Justiça faça o que lhe compete, isto é, decida.

Diga-se de passagem que se eu estivesse no lugar de José Sócrates, faria exatamente o mesmo. As pulseiras nem aos rafeiros deveriam ser aplicadas...

7.6.15

O desejo de um rei

«Estando já deitado no áureo leito,
Onde imaginações mais certas são,
Revolvendo contino no conceito
De seu ofício e sangue a obrigação,
Os olhos lhe ocupou o sono aceito,
Sem lhe desocupar o coração;
Porque, tanto que lasso se adormece,
Morfeu em várias formas lhe aparece
(...)
«Este, que era o mais grave na pessoa,
Destarte pera o Rei de longe brada:
- «Ó tu, a cujos reinos e coroa
Grande parte do mundo está guardada,
Nós outros, cuja fama tanto voa,
Cuja cerviz bem nunca foi domada,
Te avisamos que é tempo que já mandes
A receber nós de tributos grandes.»

«Eu sou o ilustre Ganges, que na terra 
Celeste tenho o berço verdadeiro;
Estoutro é o Indo, Rei que, nesta serra
Que vês, seu nascimento tem primeiro.
Custar-t'-emos contudo dura guerra;
Mas, insistindo tu, por derradeiro,
Com as não vistas vitórias, sem receio
A quantas gentes vês porás o freio.»

O sonho de D. Manuel, in Os Lusíadas, Canto IV, estâncias 68, 74 e 75

Sobre a finalidade dos sonhos, Freud estabeleceu que não se trata de concluir que o sentido de todos os sonhos é um desejo realizado pois, muitas vezes, esse sentido resultará de uma expectativa angustiada, de um debate interior.

Quando se esperava uma decisão ponderada pela razão, os argumentos mais sedutores saem do sono real, através do Ganges e do Indo. O Oriente aceita submeter-se ao Rei do Portugal, reconhecendo, no entanto, que a guerra será sangrenta.
O masoquismo dos rios orientais é hoje confrangedor. Só que não podemos ignorar que a voz dos rios (assim como a voz de Morfeu) é o desejo de um rei que se mantinha fiel à missão de Ourique e que teve que recorrer a argumentos que fossem capazes de derrotar a voz do Velho do Restelo.
Não podemos ignorar que a lisonja é em causa própria! E o sonho é uma peça literária!



6.6.15

Para lá do ponto final

Para lá do ponto final, ainda parece haver algum tempo... Suspenso das reticências, vejo-me obrigado a pensar no que fazer. Há sempre uma quantidade enorme de papéis e de ferramentas que esperam por arrumação, mas será essa a melhor forma de aproveitar algum talento que possa ter?
O problema é que, ao contrário da parábola dos talentos, estes não me foram dados. Se algum ainda tenho, terei que ser eu a descobri-lo e a pô-lo a render.

Pode ser que, por entre tantos papéis e ferramentas, acabe por encontrar um caminho que me impeça de me tornar uma inutilidade. 
E os apelos à gratuitidade não faltam!