7.5.06

A máscara que chora...

Finalmente pude ver a exposição "Frida Kahlo 1907 - 1954" no Centro Cultural de Belém. E digo, finalmente, porque procurei a exposição ainda antes da sua inauguração, motivado pelo cartaz que reproduzia o quadro "Coluna Partida", de 1944. Ignoradas as circunstâncias da sua produção, este quadro parece emergir de um delírio de Dalí. Mas não, ele enraíza-se num autodomínio ímpar perante as contrariedades da vida, sobretudo, as constantes limitações de ordem física. Expõe a altivez da consciência perante a fragilidade do corpo, de tal modo que o auto-retrato se transforma num meio capaz de capturar aquela parte que de si parece afastar-se, deixando-nos ver a tortura da imobilização, o cansaço e a dor... a dor de si.
E quando deixa de olhar para essa dor de si, vê, em si e naqueles que lhe estão próximos, formas e cores que nos deixam antever um México nativo, onde a vida e a morte se encontram genuinamente ligadas. Onde o culto dos mortos é uma forma de vida, bem diferente da encenação espanhola da morte, inventada pela Contra Reforma.
Na arte de Frida, a máscara não esconde, não finge... a máscara que colocamos quando já não há nada a ocultar, a máscara chora.

1 comentário:

  1. Olá professor!

    Como passa? Só para deixar um olá e dizer que sempre gostei muito das suas aulas, eram realmente estimulantes e obrigavam-nos a pensar nas coisas...
    Quero ir com certeza ver a exposicao, mas como me encontro na Alemanha penso que será dificil!!!

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