29.8.10

As Intermitências da Morte

De forma intermitente, lá consegui ler a obra até à última linha.  Vem classificada como romance, o que me parece abusivo, a não ser que, neste século XXI, tudo caiba neste “saco”…  Há muito que penso que José Saramago é, sobretudo, um ensaísta que gosta de pôr à prova a genologia. Saramago explora com enorme rigor os limites dos nossos conceitos, relativizando-os ao ponto de “as aberturas” serem, regra geral, inverosímeis. E neste caso, o mesmo acontece com o desfecho. Invertendo os desejos, é a morte quem suspende a rotina do dia seguinte, e não o violoncelista… o autor que, através da figura da suspensão, experimenta, como Penélope, prolongar a vida.
Claro está que a consciência da irremediável finitude convida à paródia e ao ajuste de contas e, n’As Intermitências da Morte, as instituições são as principais vítimas de um discurso soberano capaz de desossar a própria língua.
PS: No lugar onde me encontro, a internet também se encontra suspensa, não sei se por decisão da morte ( das tecnologias) se por distracção dos nossos ilustres governantes… 

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