26.9.12

Dia VII

(A dificuldade reside na ausência de conhecimento sistematizado da História.)

Como explicar o rumo do escritor romântico, se o destinatário ignora que entre o século XV e o século XIX  a matriz foi, em geral, estrangeira - do renascimento ao iluminismo - mesmo que cercados pelo Tribunal do Santo Ofício?
Até o protótipo do império era estrangeiro! A arte apresenta-se como reflexo de uma cultura cujas raízes se encontram fora do solo pátrio. Será assim tão difícil de entender a regra e aceder às exceções?
A ruptura romântica inscreve-se num ato refundador da História e consequentemente de todos os ramos que à sua sombra florescem: as artes, em particular...
E nesse movimento, o povo eleva-se do solo e a sua memória passa a ser sondada como o adubo que pode fortificar a seiva romântica.
Claro que com equívocos! Os românticos, apressados, confundiram quase tudo. Sobretudo, exaltaram o espírito criador coletivo, ao não distinguirem autoria de transmissão (tradição). Quiseram convencer-nos que a criação individual fora inicialmente do grupo, como se o romance transmitido oralmente não tivesse sido criado por um indivíduo. Reservaram o génio individual para eles próprios, os vates, os mensageiros de uma nova ordem gerada pelos enciclopedistas e consagrada na execução dos reis (do antigo regime).

Está na hora de voltar atrás e explicar o que significava "convocar e reunir cortes", o que talvez ajude a perceber que o "concílio dos deuses" camoniano já tinha raízes nas "Cortes de Júpiter" vicentinas. Claro que os reis (absolutistas) já só convocavam as cortes em situações extremas. O ato passara a ser encenação:

"Oh caso pera espantar
que é isto Jupiter
a que nos mandais chamar
quer-se o orbe renovar
ou tornar-se o mundo a fazer?"
(Vicente, Cortes..., 1521)

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