De manhã, pareceu-me que havia vida para além da minha rua, que o pensamento existia fora de mim e que este se revelava na cor e no movimento de gulosos cisnes brancos. A certa altura, desconfiei do meu pensamento e apeteceu-me dizer que os cisnes daquele lago só lá estavam porque eu os estaria a ver. Pobres cisnes, ficavam à mercê do meu olhar!
À tarde, fiquei absorto no homem que falava 29 idiomas e vários dialectos, que foi pioneiro dos estudos etnológicos e ainda teve tempo para se converter a vários credos, e fazê-lo tão completamente que entrou e saiu de Meca sem perder a vida, e pelo caminho subiu o Rio São Francisco e chegou ao lago Tanganica, sempre no meio de escândalos e de violentas inimizades - um homem que traduziu o mundo, do Kama Sutra às Mil e Uma Noites e conquistou o ouro necessário à metamorfose de uma vida. Um homem que confrontou o puritanismo do seu tempo - Richard Francis Burton (1821-1890).
E à noite, cheguei a pensar em responder a vários pavões que ocuparam o Largo fronteiro, mas para quê?
ALHEADO II
ResponderEliminarJá eu, em quase-alheamento, tratei de assuntos administrativos no Centro de Saúde, paguei antecipadamente senhas de refeições por consumir, embrulhei-me em Barbies especulativas, fingi que era útil.
À falta de pavões, mal-disse o lixo esvoaçante na praceta e mais quem o soltou.
Recolhi-me entretanto ao silêncio da neblina e espero pacientemente pelo fim do mundo!...