Hoje é domingo e não fui à igreja - fui ontem encomendar uma missa, eu que não sei o que é a fé - e, de súbito, moço de recados, compreendo que a vida pouco mais é que esse mango.
Voltei a caminhar, embora mais moderadamente, sempre com um objetivo intermédio e útil. Pelo caminho fui fazendo compras, lendo o DN e, a certo momento, cheguei mesmo a sentar-me num banco a apanhar sol.
Das notícias nada extraí de significativo: uns tantos acidentes, um novo cardeal, um país que deixou de investir na ciência e que desmantela o serviço nacional de saúde, um presidente que, depois de, enquanto primeiro-ministro, ter desmantelado a agricultura, as pescas e a indústria, agora, apela aos de sempre que se unam para defender os interesses instalados...
Como se fosse sábado, adiei para amanhã a preparação do regresso às aulas, sabendo, no entanto, que o moço de recados pouco tempo terá para tal mango...
Tal como ontem, hoje roubo a Pepetela o termo mango, até porque continuo a ler o romance, publicado, em 2013, O Tímido e as Mulheres... uma obra em que Pepetela deixou claramente de servir o senhor de Luanda, não se acanhando de expor os meandros da corrupção angolana e sobretudo de explorar o erotismo até a um ponto em que começa a retratar a mulher como manipuladora cruel do desejo do macho...
Por outro lado, o autor da Geração da Utopia, vai revelando uma faceta cada vez mais caustica: «devemos sempre seguir para a frente, abandonar as ideias inalcançáveis e lutar apenas pelo possível, a busca da utopia tem feito muito mal ao mundo...»
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