30.1.15

O Tímido e as Mulheres

Pepetela (ou a editora?) deu ao romance de 2013 um título que convoca mais a leitora do que o leitor. Por que motivo? Preconceito... Quem escreve é o escritor, mas quem lê é a ...

Heitor, ao contrário do herói da fábula grega, sob a máscara de escritor em início de carreira, vê-se enredado numa teia feminina, em que a figura materna, apesar de distante, parece condicionar a sua relação com as mulheres - Tatiana, Marisa e Orquídea.

De qualquer modo, a teia amorosa não passe de um disfarce para o escritor acertar contas com o passado e o presente. Descreve sem qualquer timidez a avidez, a cupidez e a estupidez que governam Luanda... a explosão demográfica e a consequente expansão urbana são o pasto para a desigualdade social e para a corrida ao ouro por um grupo de aventureiros sem escrúpulos...

No entanto, refém do tempo heróico dos guerreiros libertadores, Pepetela tende a desculpabilizar  os ex-militares, atirando para cima daqueles «que nunca fizeram a guerra... os bandidos urbanos» a responsabilidade pela criminalidade e pela corrupção que grassam na nova Angola...

Lá bem para trás, fica o colono «o deus, o carrasco e o patrão, tudo numa pessoa.» 

Em síntese, Pepetela continua igual a si próprio: descreve com detalhe, por vezes sádico, a vitória da mulher sobre o homem e, sobretudo, mostra-se implacável na análise sociológica da vida económica luandense. Por fim, continua como nenhum outro escritor angolano, a enriquecer a língua portuguesa com vocábulos arrancados às línguas locais: maka, mambo, múkua, moringue, kuribotas, calús, ximbeco, zunga, zungueira, kubiko, jindungo, ngombelador, caínga, bumbanço, kumbú, kamba, zongola, bumbar, xingadela, cassule, kalundú, cacussos, malambas, kimbanda, funji, balado, canhangulo, camanguista, quinda, bassulado, muata-mor, chifuta, bafómetro, njango, kubikos, komba...    

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