9.3.15

De regresso a Mafra

Quase todos os anos, visito Mafra no âmbito do estudo do romance Memorial do Convento. A visita de hoje terá sido a última!
A sensação que me fica, no entanto, é a de sempre: uma vila em que o ordenamento do território mistura o rústico com o urbano, ou melhor, em que a construção dos interesses do "psd" foi destruindo a paisagem rural, sob o efeito oceânico.
No longínquo ano letivo de 1977/78, lecionei na antiga escola de Mafra. À época a relação com o Convento era mínima - era uma presença imponente, filha de um rei hipocondríaco e megalómano, oficialmente catolicíssimo e magnânimo, que tinha desbaratado o ouro do Brasil e espezinhado o povo... 
Era um tempo de feroz luta política entre o "psd" e o "pcp", como nunca encontrei em qualquer outra escola. O "psd" ganhou, transformando o concelho num feudo alimentado pelo "ouro" da Europa, havendo mesmo tempo em que o Convento se tornou em arma de arremesso político, quando José Saramago ousou pôr a nu o desvario de D. João V..., mas rapidamente o Convento se tornou na galinha de ovos de ouro local, por conta das centenas de milhares de alunos que ali rumaram, embora muitas vezes o fizessem a contragosto, sem esquecer os milhares de estrangeiros que se deslocaram a Mafra não porque D. João V tivesse mandado construir o Convento, mas porque Saramago escreveu o Memorial do Convento...
Hoje, regressei a Mafra. No essencial, a riqueza não eliminou a pobreza. O Convento dá sinais de falta de obras de manutenção; fico até com a sensação de que há peças que desapareceram e que outras surgem ali como se tratasse de um quarto de arrumos. A visita cobre cada vez menos aposentos, havendo espaços fechados que, se estivessem abertos, nos dariam outra visão do edifício e dos arredores... e os alunos, hoje, mostraram-se muito interessados nos morcegos, quando, outrora, o fascínio se centrava nos ratos que engoliam soldados, livrando-os de partir para as áfricas, perdidos os brasis e as índias...      

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